quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Movimento Novos Poetas é destaque em programa de TV

Nosso Blog foi tema de matéria especial feita para um telejornal de Mossoró. Confiram a reportagem feita pela repórter Sara Cardoso e pela equipe da TCM.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Tédio




Vomitei nesta imagem
Meus dissabores...
Mirei teu destino como uma ilha...
Vomitei nesta imagem
Minhas infâmias...
Pelos caminhos, pelas trilhas...

Traga tua taça
Para bebermos este dia,
Embriagarmo-nos na florada
Manhã envelhecida...
Traga teu corpo, apenas,
E se deite na serena
Relva ressequida.

Como a massa do pão
Que apanha para crescer
Como o mato no chão
Que só cresce se chover
Como é preciso escuridão
Para ver o amanhecer

O coração aprende a superar

Como é preciso cuidado
Para a planta vingar
Cada galho, quando podado
A seiva, o seu lento sangrar
Refaz-se maior, mais ousado
Enche-se de flores a desabrochar

O coração aprende a esperar

Como um fio dágua, insistente
A esculpir a caverna devagar
Como o primeiro voo, valente
O ato insano de se jogar
Como comporta-se o fogo, ardente
E seu incessante crepitar

O coração aprende a amar.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

(De)pressa



Hoje eu sinto menos sua falta
Menos do que ontem.
Ontem eu sufocava,
Mal podia respirar!
Quis me embreagar
Perder o rumo, o prumo
Os sentidos, o chão...
Mas hoje, não!
Hoje eu não tenho tanta pressa.
Até levantei mais cedo,
Andei pela praça,
Comprei o pão.
Mas não fiz café:
Só havia água em minha casa.
Amanhã é segunda-feira,
Talvez eu faça a feira,
Mas eu não tenho pressa..
Vou te expelir no suor, feito toxina
Assim, um pouco, todo dia,
Até um dia...
Hoje sofro menos do que ontem,
Amanhã menos do que hoje,
Depois de amanhã.. Não sei!
Só sei que hoje me amo mais do que ontem,
Amanhã me amarei mais do que hoje
E depois de amanhã...
Me olharei no espelho
E verei mais a minha imagem do que a tua.
Sem pressa...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Os Caracóis ou Das Nostalgias na Noite X – Final. (O Poeta se Despede)




Acabarei teus sonhos,
Fulminarei tuas ilusões,
Descartarei teus amanheceres,
Iludirei tuas infelizes manhãs!

Oh, como gostaria de ficar
Aqui semeando nuvens
E decodificando esta existência
Feita de apenas ver a ilusão
Que se expande em cada ser!

Oh, como gostaria de permanecer
E, assim, ficando apenas inerte
Diante de uma imagem qualquer
Ver a vida se perder!

Oh, que preciso apenas compartilhar
Meus vícios, minhas predileções!
Oh, que preciso apenas desvencilhar
Os teus pensares, arruinar as sinas
Que me acenam na imprudência dos dias,
Das horas, dos milhares
De anos que vão passando,
Dos tempos que vão se empilhando!

Oh, que preciso destruir impérios,
Vomitar meus impropérios
Sobre as coisas que me delimitam
E me transformam em apenas um,
Em um assassinado número entre homens,
Em descalabros, extremos e limites!

Oh, minha musa infernal!
Teus sentimentos, tuas fúrias
Crucificam-me no Golgota da alma!
Oh, como gostaria de ficar
Tecendo alegorias no céu de tua boca,
Arrancando teus olhares remotos,
Percorrendo teus poros, tuas curvas,
Avançando, desbravador, teu mundo!

Oh, como gostaria de ficar,
Minha musa infernal,
Contando vésperas e incêndios,
Apaziguando imagens e desastres
No ser que agora enceno!

Oh, como gostaria de ficar,
Minha musa infernal,
Cantando tragédias, como um rapsodo,
Avançando – mata adentro –
Tua paisagem de ser,
Aliviando o fardo que carrego,
Costurando a alma que renego!

Oh, como gostaria de ficar,
Minha musa infernal,
Medindo tua pele como um matemático,
Agrupando teus fragmentos,
Analisando o somático –
Incandescente tormento!

Oh, como gostaria de continuar assim,
Sempre e eternamente, saindo de mim!


Ilustração: Gravura dos Padecimentos no Hades - Inferno de Dante

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Os Caracóis ou Das Nostalgias na Noite IX




IX

Navegar nos teus sonhos mais secretos,
Despejar a existência em brancas nuvens,
Sacrificar o oculto pensamento,
Distrair imensidões do absoluto,
Cortar os pulsos e mais que isso,
Jogar sobre os livros teus pensares,
Divagar por diferentes lugares,
Imitar o crucial instante do tédio,
Despencar a alma de um prédio,
Ouvir uma música e se ilhar,
Ser caracol, se perder no mar.

Imitar-te os prazeres mais sombrios,
Ser-te no instante em que habito;
Imolar-te sem que haja qualquer grito...
Invocar-te, oh, musa infernal!
Iludir-te como uma sombra matinal!


Ilustração: Gravura do Tormento dos Pecadores - Inferno de Dante

Os Caracóis ou Das Nostalgias na Noite VIII




VIII

Por que as manhãs
Duram como uma eternidade?
Por que me assolam
Os pretextos da lealdade?

Oh, quando eu sumir
Pelos vales,
Pelas sendas,
Pelas estradas,
Onde lhe encontrarei?
Na madrugada?

Venho de expandir
Meus mundos,
E de arrastar-me
Pelas águas minhas
Até onde me encontro –
Solitário –
Em meio à ira.

Por ser-me caracol,
Por estar-me sempre alheio
É que me afiguro estrela
(Poeira do nada),
Sobejo.

Minha fronte está marcada
Por tua singela imagem,
Por tuas palavras exatas,
Por longas noites sonhadas...

Venho de outros sonhos.
Como um invasor do Eu,
Assomo-me, por inteiro,
No morto (agora) olhar teu.

Quero organizar a alma
Como um grande fichário;
Apiedar-me daquilo que deságua
No meu itinerário.

Quero desperdiçar a vida
Em lençóis e aclamadas
Infâmias de minha lida,
Solidões apunhaladas...

Quero mendigar teu vício,
Teu suor, tua ilhada
Existência feroz – o Início
Daquilo que foi enxurrada.

1

Envolto em manhãs
Sigo – lentamente –
Pelo caminho de sempre –
Descontente.

Há muito te sonhei sorriso
Plácido,
Numa noite fria...
Agora me desperto
- sombra –
Na imagem, fotografia.

Oh, ilusões que não passaram!
Oh, fantasmas
E sombras
E objetos
E fortificações
Que se arruinaram!

Oh, canhões
Que despedaçaram
Os alienados!

Sim, vós que contendais
Pelas calçadas,
Com vossas teorias fúnebres,
Com vossos discursos monótonos,
Com vossas ideias de ferrugem!

Oh, meus algozes,
Juízes de ocasião!
Vós que aniquilais
A alma por um reles tostão!


Ilustração: Os traidores - Inferno de Dante

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Leveza II




Não só leve a tua voz,
Também é leve o teu silêncio
tudo em ti é leveza.

Tudo em ti é beleza,
Teus olhos claros,
Dois lagos tranquilos
teus cabelos longos,
Fios de Ariadne
Tua pele macia...
Tudo é leve.
Tudo em você é suave...

A fada que um dia eu sonhei.
Brinca agora em teus sonhos
A esperança que faz continuar,
Transformando sonho em realidade
Entre sonho e esperança,
A vida em primavera te sorri
Diante do peso da vida,
Das tristezas e amarguras
Tu és a coisa mais leve.
Tu és a paz que eu busco.

Não só é leve tua voz...
E leve a tua presença se faz.
Tudo em ti é leveza.
Em ti tudo é ternura...

Tuas palavras de carinho me envolvem
Tuas atitudes de amizade me fortalecem
Teu coração de menina...
Tudo é leve. E leve, assim, flutua nos sonhos, feito fada.

Dony Moreira
Luciah Lopez

Poetas

Haicai inconsequente




Longe de tua voz meu
Sereno existir
Está bem dentro de nós.

Alma de Cedro
Poeta

Rude




Quero quebrar teu silêncio com um sorriso
Que de seu ar sério hei de arrancar,
Pois há muito que não temo tua bravura
E conheço-te até mesmo o pensar...

Tua face inabalável e, às vezes, dura
Perde a pose a cada leve sussurrar.
Não esconda, então, de mim, tua doçura;
Não me negue o brilho deste olhar...
Hei de honrar o teu segredo, te asseguro
E não me culpe se um dia eu te amar...

Não me julgue se te quero...
Tuas armas não funcionam contra mim.
Não me repreenda pelos beijos que eu roubar;
Não me prive da beleza do teu riso
E não se culpe se um dia eu te amar.

Não me açoite com o silêncio.
Preciso, pois, ouvir-te sempre, ao respirar.
Não me esconda dos teus olhos;
Não leve de mim a poesia nua
Que transborda em teu olhar
E floresce em cada gesto rude
Do teu doce caminhar.

Ellen Dias
Poetisa

Do Encontro




E nada mais anseio
Senão o dia em que
Meus olhos, inquietos,
Cruzarão com os teus;
Meus braços, insistentes,
Encontrarão seus pares e
Meus lábios eufóricos
Contentar-se-ão
Morrer em tua face.

Rayane Medeiros
Poetisa

Mente pesada




Nesses meus passos
Sempre errantes
Carrego, sem forças,
Pelas mãos,
Minha consciência,
Arrastando-a por esse chão.

Sousa Neto
Poeta

domingo, 20 de novembro de 2011

Gravura



Aprecio inventos
que habilitam alguém
parecer comigo.
Poemas, refrões,
bilhetes e retratos
ferramentam essa busca.
Registros que mediam ser.
Imagens e palavras traduzidas
que nos sobrepõem
por prazer.


Leonardo Valesi Valente
Poeta


Ilustração: Rubem Grilo

Os Caracóis ou Das Nostalgias na Noite - VII




VII

Igual a um caracol
Sinto-me alheio,
Desafiando os dilemas do eu,
Desertor do Ego
Que me distrai,
Colecionador de símbolos,
Ais.

Quero sempre beijar-te,
Mesmo ao longe, devagar...
Quero expelir-te nesta tarde;
Quero aprisionar-te, te devorar.

Que não me peças – como a um estranho –
As mesmas loucuras, os mesmos danos...
Oh, minha musa infernal que me massacra,
Arranque-me este coração com uma faca!

Sim, meus silogismos mais secretos me pranteiam,
Choram por ver-me aprisionado
Num olhar de alguém e contrariado
Pelo Todo, pelo que anseio!

Ah, minha solidão pequena!
Quero morder-te a língua,
Quero cortar-lhe os pulsos,
Quero apaziguar-te a vida,
Afago absoluto!

Ah, minha solidão tão minha!
Acompanhas-me como um mau hábito!
Amedrontas-me – descalabro –,
Interior preenchido pelo inevitável!

Quero divinizar-te os pecados mais remotos!
Quero anunciar-te as fantasias mais profundas!
Quero atingir-te os prazeres mais inglórios!
Quero jogar-te sobre as espumas!
Quero alienar-te nas falas mais mesquinhas
E ignorar-te nas esquinas!


Ilustração: A morte do filósofo Sêneca.

Os Caracóis ou Das Nostalgias na Noite VI




VI

Por que agora caminho entre paragens,
Percorrendo os mesmos lugares?

Vivo pela vida – avante – alerta,
Com o mal na alma que me degenera.

Eu queria sentir tuas veias, teus sonhos...
Pintar estes lábios sóbrios – antanho.

Oh, minhas solidões, minhas claridades
Que me incendeiam calamidades!

1

Eu sei que meus fragmentos me dispersam
Em mais de um, em dois, em milhares
De pedaços que vou perdendo
Pelos desertos, pelas tardes!

Quisera ter aqui teu deletério
Sorriso a espanar a vida,
Como uma força abrupta (diluída),
Espalhando as chamas deste inferno
Em que habitas!

Oh, manhã de meus infernos astrais!
Oh, boca úmida de ser!
Oh, fragmentárias visões que me cegam,
Que me desmancham
Em métodos,
Em palavras,
Em remorsos!
Que me consomem no câncer do Eu!

Oh, manhã de meus infernos astrais!
Sorrateira – em mim – como um salteador,
Roubando-me,
Aniquilando-me,
Destronando-me,
Subjugando-me!

Que venha sobre meus dias
Tua face,
Teus gritos
(Esperança desperdiçada entre lençóis).

Que venha sobre meus fardos,
Tua sempre presença
A aquietar-me a alma,
A segurar – dentro de mim –
Este espírito frágil,
Esta existência decadente –
Feita de ossos
E carne
E olhos.

Como queria engolir-te
(Com vinho e a mesa posta)
Em pequenos pedaços,
Oh, motivo maior,
Caracol de mim!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Angústia



Não choro um rio,
Eu choro mares,
Como um náufrago de um navio,
Afogo os males!

E nessa angústia eu nado
(contra a correnteza)
Deixando a maré expelir
Toda a tristeza...

Caindo no oceano de lágrimas
Vou ao lugar mais profundo,
Mas o empuxo-consciência
Me devolve ao meu mundo.

Ana Rita Dantas
Poetisa

Despedida



A dor da despedida é passageira,
A lembrança é inesquecível
E a despedida inevitável,
Só nos resta ter esperança...

Um novo encontro,
Um novo lugar,
Um tempo de esperar,
Ser calmo, Ser paciente,
A paz um dia virá,
A dor se fenecerá
E o brilho dos olhos voltará...

Em uma nova vida,
Em um novo lugar,
Felicidade, enfim, reinará.

Ariany do Vale
Poetisa

Pare o tempo



Se encaixa em meu abraço
e me vejo suplicando ao tempo que pare
para que nunca mais te afastes destes braços meus,
que te esperaram desacreditados por estes anos
que mais pareciam a eternidade.
E te deixar partir, meu bem,
é partir-me em duas também!

Janaine Martins
Poetisa

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Antropofagia


I

Vasculhar a alma
Abrir a gaveta-coração
Quantos eus cabem em mim?

Procurar com calma
Na completa escuridão
Encontrar-se ao fim

II

Despir-se do ego, dos medos
Das mentiras e da hipocrisia
Aceitar cada eu que existe

De mãos dadas comigo, entre os dedos
Está a beleza, a feiura, a fantasia
O que tenho de alegre e triste

III

Aceitar-se. Nada mais.
Olhar pra si e conseguir
Rir, chorar, tirar sarro

Conhecer-se, achar a paz
Que está em admitir
Que somos mármore e barro.

IV

Olhar o espelho, ver a imagem
Perceber-se através do corpo
Admirar-se novamente

Navegar em si, sair da margem
Deixar a segurança do porto
Sem certeza permantente

V

Adaptação
A que me obrigo
Pela consciência

Que pro coração
O melhor abrigo
É a autociência.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Os Caracóis ou Das Nostalgias na Noite - III, IV e V




III

Igual a um caracol sigo, lentamente,
No desfilar das horas que se me apresentam,
Os longos caminhos que vou tecendo...

Não vejo caracóis em bandos,
Não vejo caracóis pelas ruas
Desfilando espantos e espasmos sombrios...

Minha predileção está no nada,
Onde me encaminho a cada momento
Como um solitário caracol em seu tormento...

IV

E para minha vida,
E para tudo, pois, que eu mirar
Que veja teus cabelos,
Tua boca, tua face,
Teu caminhar...

Desesperado por qualquer estrada,
Que eu veja a plena madrugada.

Que seja tão serena a vida,
Que seja apenas uma ilusão,
Que seja serenamente esguia,
Que seja a doce exatidão,
Que seja vida vivida,
Grata de ser, apenas, escravidão.

Que seja meu olhar contrariado
A vida que sempre hei sonhado!

V

Oh, caracóis!
Oh, rapsodos do nada!
Oh, rapsodos da escuridão!
Vates que se espremem dentro de suas casas!
Loucuras,
Devaneios,
Podridão!
Oh, asfixias que me aprisionam,
Que me matam como a uma presa!

Oh, tardes e noites e manhãs
E vãs alegrias ao amanhecer!
E abandonadas mulheres vestidas
Num lençol manchado!
Oh, apocalipses que incendeiam meu corpo,
Minha euforia!

Oh, assassinos da poesia!
Vós que andais em bandos
Como coveiros do nada
Arruinando a beleza da palavra!

Oh, assassinos da palavra,
Que degenerais as multidões ignaras
Com seus discursos e farsas!

Oh, assassinos da poesia!
Como bandos de pássaros negros,
Como bandos de esfarrapados,
Como uma multidão de alienados!

Oh, assassinos da poesia!
Vós que andais com dicionários!
Vós que dormis com manuais de literatura!
Oh, vós, que apodreceis a palavra
Com suas locuções inúteis,
Com suas observações infrutíferas!

Oh, assassinos da poesia!
Vós que andais em bandos
Como cachorros vira-latas,
Arruinando a beleza da palavra!

Oh, assassinos da poesia!
Oh, assassinos da palavra!
Até quando teremos de lhes suportar
A presença indesejável,
O olhar fatigado,
Como críticos em sepulturas,
Lápides que se corroem com o tempo!

Oh, assassinos,
Assassinos da palavra!
Vós que arrazoais de tudo,
Vós que penetrais no terceiro céu,
Vós que aniquilais o pequeno,
Contudo,
Permaneceis sob um véu!

Oh, assassinos, eu vos odeio!
Como odeio também
Suas malsãs
Palavras abjetas, e receio
As mesmas manhãs!

Oh, pobres assassinos da poesia!
Vós que aniquilais a vida da palavra!
Vós que privais o verbo de suas expansões,
Vós que dissipais a carne do menor!
Oh, imundos assassinos da poesia!
Eu vos odeio como um caracol odeia seus inimigos!
Fujo de vós como um caracol foge,
Pacientemente, de seus algozes!


PS.: Esta obra está sendo produzida numa máquina de escrever Erika, 1950, e, depois, digitada em um computador.


domingo, 13 de novembro de 2011

Os filhos que escolho

Escolho os nomes para os filhos que nem conheço ainda o rosto
Que nem sei se os terei
Que nem sei se os quero
Apenas pelo hábito inútil de tentar me perpetuar na figura de outro ser
Mas os filhos não são como a gente
Nós os criamos, mas eles não são como a gente quer
Por isso, por enquanto,
Prefiro dar nome às minhas poesias
Pedaços imutáveis de mim. 

Café & Saudade


É de manhã
Ainda é cedo
A cidade lá fora começa a se agitar
Aqui se agitam as coisas também
Tomo um café que mais tem gosto de saudade
Me ponho de pé e saio às ruas
Regresso,
Dores de cabeça misturadas com tristeza
Dores de saudade e uma xícara de café esquecidas sobre a mesa.

O que tenho de mais raro


Estou perdido!
Agora sei.
Poderia entregar-te a minha vida
E algumas outras tralhas
Pra dizer que te admiro e que me agrada.
No entanto, desde cedo que te escrevo
E te entrego e te declaro
Tudo o que tenho de mais raro:
Meus sentimentos versificados
Em poucas linhas,
Minha pobre e humilde poesia.
Aquela que fala por mim quando me calo
E que traduz as emoções que não descrevo;
A poesia que extravasa enquanto eu temo
O “eu te amo” escondido em minha fala. 

A paz que é minha











Oh vem amada minha!
Acalma-me a alma
Tens em ti a paz que é minha
Na minha tua doce alma

Procuro-te em tudo o dia todo
Procuro-te em tudo o que faço
Mas somente em sonhos eu te vejo
E só assim eu me refaço
Pois só em ti me fortaleço
E só me acalmo em teu abraço

Vem, vem logo amada minha
Pois sozinho eu sou metade
E só encontro a paz que é minha
Na tua-minha outra metade.

Reflexões sobre o eu


Nada do que dizem de mim é verdade.
Nada do que falam de mim é mentira.
Depende de quem o conta,
Depende de quem escuta.

E quem sou eu pra refutar?
Aqui de dentro, nada vejo,
Vou vivendo e sou vivido,
E muitas vezes,
Nem a mim mesmo percebo!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Os Caracóis ou Das Nostalgias na Noite II




...E ser um caracol,
Existir em mil lugares,
Hastear minha bandeira
Pelos ares...
E deixar-se, assim,
Quase resoluto
É também ocultar-me
Como de qualquer outro...

Ser um caracol,
Estar alheio ao todo,
Aos devaneios que me cortam
A carne, como um alarde.

Canto, pois, esta solidão-morada.
Canto, pois, esta solidão mesquinha,
Fiel dentro de mim
Como uma morte;
Eufórica dentro de mim
Como uma vida;
Triste dentro de mim
Como um baile de poucos convivas.

Esse caracol frequenta-me
Noite e dia,
As horas expurgadas num minuto.
Frequenta-me a vida,
Sua podridão de vida,
Efêmeras palavras
Que navegam sobre meus mundos...
Frequentes discrepâncias
Que me alucinam...
Som qualquer, prazer repentino...
Meu cigarro numa noite fria,
A visão de tudo que me dilui
Em fontes, em restos,
Em cardumes de nadas
Boiando girassóis
E fragmentos de olhares vadios!

Oh, minhas manhãs
Como uma fruta
Apodrecendo na boca!

Oh, minhas manhãs
Como esperanças,
Como tédio,
Como a vasta
Cabeleira do dia,
Como um sol a pino
Sobre os algarismos do nada,
Sobre a fruição dos meus
Pensares mais íntimos.

Oh, plena solidão de mim,
Egoísmos que me infundem
Uma alma tão pequena,
Tão minha, tão ideal...
Idealismos de minhas consciências,
Flores e desabrochares
E medos e fantasmas
E coisas que me dispersam
Em inúteis navalhas.

Esta manhã podre sobre os móveis;
O cupim que corrói meu coração,
Igual a uma madeira gasta,
De infinitas plenitudes...
Desenhando felizes ilusões
Em minhas noites sem vigília.

O que virá, o que me ilude,
Funde-me em cataclismos,
Apocalipses de outros mundos
... Enquanto caracol,
Enquanto fonte,
Enquanto nuvem,
Enquanto terremoto,
Lá, onde agora meus algozes cantam,
Exultantes, vencedores...

Esse tédio que me come por dentro,
Esse tédio que me assassina as horas,
Esse tédio que me cospe para fora
E, diletante, me esbofeteia...
Canto-te, oh, tédio de meus punhais!
Canto-te porque em tédio
Apenas te fazias,
Porque tédio apenas eras,
Fumo qualquer, ilusão despercebida...

Tua carne é minha senha,
O esconderijo onde habito
Em multidões incalculáveis...

Nestas manhãs em que me dissipo,
Sobra de nenhuma fonte,
Desespero de almas despossuídas,
Enxergo apenas tua face,
A lembrança que me esmaga,
Que me mastiga o cérebro,
A consciência de outras eras perdidas.


PS.: Esta obra está sendo produzida numa máquina de escrever Erika, 1950, e, depois, digitada em um computador.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Os Caracóis ou Das Nostalgias na Noite




Como um caracol, carrego sobre meus ombros
Minha morada-vida, minha morada-ilusão.
Sou um Ulisses e desejo aportar em minha ilha,
Desejo visitar minhas imprudências,
Desejo saborear qualquer boca na esquina...

Como um marinheiro que há muito não vê terra firme,
Estou distante das coisas e delas sempre me ressinto,
Quando a imensidão de uma manhã qualquer me invade,
Quando a mulher que passa na esquina me acena
As coloridas verdades de seus panos...

...Aquela mulher que me acena na esquina,
Aquela outra que me mapeia o todo,
Aquela que me trucida e me fascina
As sempre abertas veias do corpo...
Aquela mulher que me beija, me passa sua língua
De verme sobre meus começos,
Aquela mulher que me assassina
Eternamente a alma em devaneio...

Estou no inferno ou será apenas
A impressão de ver além,
Um corpo estendido sobre a mais serena
Volúpia da vida, seu desdém?

Estou preso à vida ou será apenas
A ilusão de estar-me nulo
Diante de uma pequena
Ingratidão em que me acumulo?

Estou no inferno de mim
Como qualquer outro...
Sigo plenamente envaidecido
De estar-me, apenas, no indefinido
Pavor do Outro, o mesmo morto...

Estar-se assim e não notar-se
Na ausência fugaz de alguém que lhe grita,
Entre dentes, teu nome como uma maravilha
Que o mundo esparge sobre infinitas eras...
É o mesmo que jogar-se sobre fileiras
De punhais na noite escura...
Assim, assassinando-me, é que vejo
O corpo neutro e branco sobre o começo
De algo que foi e que não mais é...

Fruto sereno além de meus ouvires,
Suor repentino, meus desprazeres,
Lágrimas que rolam em mesas e em bandos
Como pássaros vadios que me enchem a vida
De cantos desiludidos e qualquer suspiro...

Estar-se assim e não mais ser
É apenas um momento e não um fim
Em que procuro ser caracol, morada de mim,
Em que me ausento da solitária estrada
Para prosseguir-me sempre em vão
Extensas manhãs e caminhadas...

Sim, se há no corpo essa morada
Alugá-la-ei por longos dias,
Serei teu inquilino, tua euforia
Na imensidão do que não se conta,
Em gotas, em nadas e infâmias...

Sim, se há no corpo essa morada,
Ser-te-ei, pois, durante esta vida
Um solitário homem a pendurar navalhas
Nas tuas pupilas desvanecidas...

Quero teus lábios lambendo as mesmas horas,
Desafiando o fino calor da noite densa...
Quero teus lábios cortando meus amanheceres
De tristes e desprendidos nervos partidos...

Quero teus fragmentos, tuas loucuras
A cortar-me por dentro como uma faca,
Arrancando-me a vida nas salgadas
Águas de um mar qualquer, despoluído...

Quero teus lábios bebendo meu café amargo,
Saboreando-me a carne numa manhã cinzenta;
Quero teus lábios me orientando, bússola,
O caminho para a verdadeira ausência...

Sou um caracol; me sinto alheio,
Desafiando o mundo com minha solidão,
Carregando, sobre meus ombros, a mesma ingratidão
De muitos e de outros receios...

Minha novela

É um sonho, Moço,
Ver-te em minha novela
Tão somente meu –
Senhor de meus suspiros,
Sorrisos repentinos que me flagram,
Do palpitar desconexo que me trai...

És um sonho, Moço,
Um lindo sonho que
Acalanta-me,
Afaga-me,
E me beija o coração apaixonado.

És meu sonho, Moço,
E orbito oscilante em ti,
Radiante,
Indisciplinada,
Como o primeiro e
Derradeiro amor...

És meu sonho, Moço,
Meu mais lindo sonho,
E não me permito despertar!

Rayane Medeiros
Poetisa

Necessidade

O silêncio-solidão
A dor revela...
Antes disfarçada,
Falsa força,
Esforçada,
Para não deixar cair essas lágrimas
E percorrer as curvas com desvelo.

Mas já aos prantos eu não minto
Que essa força me consome.

Respiro fundo...
E ao fundo sinto
Que necessito respirar outros ares,
Afogar-me em outros mares,
Pois as águas salgadas
Consomem a dor.

Ana Rita Lira
Poetisa

Enclausurada

Consegue me ouvir,
Alguém aí fora?
Pois frio e escuro
Aqui dentro está,
E esta porta
Não quer destrancar.

Tentei gritar, mas em vão,
Porque parece que ninguém
Tem a chave para me libertar,
Dessa solidão!

Sousa Neto
Poeta