segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Toda essa garra

São cartas estranhas
fazendo jogo com outras
que não sabem bem o que dizem.

Elas brincam com faces
que não conhecem,
São estranhas
e brincam com as
faces.

Você se sente um estranho,
desconhece as pessoas
e pensa que as faces
são diferentes.

Mas o diferente é você,
mesmo com toda essa garra,
ou essa vontade,
ou mesmo essa sina,
você é o herói ...

Rodolpho Rodrigues
Poeta

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

V.



Dentro do sonho
(Eu)
Destituído e só
O meramente pó,
De outros olvidado
E cínico...

Dentro do sonho
(O teu),
Desdobrando-me
Em corpos siderais,
Passo o horizonte,
(Os sinais),
O perpétuo logos,
O sul...

... Outro corpo,
(A pele)
Me sinaliza
Do interior do ventre,
Inerte.

II

Toda manhã
Cismando aforismos...
Esquartejando meus ideais,
Lustrando esse vazio
Corruptor do ego.

Toda manhã
Imaginando o fim das coisas,
Contando imagens
Desmanchadas em bocas,
Em loucas alegrias tolas!

Toda manhã
Catando essa insanidade minha,
Desfigurando fotografias
Velhas, lembranças findas!

Toda manhã
Arrebanhando centauros,
Ouvindo ninfas ao longe,
Preso ao Eu, tal Ulisses
No mar solitário...

Quisera todas as manhãs
Destilassem o mesmo fel dos dias
E tornassem essas alegorias
Em prantos, em silêncios,
Idiossincrasias!

Quisera todos os amanhãs
Fossem desprendidos dos relógios e ponteiros
E compromissos e tudo do outro,
No outro inteiro!

Ah, que os amanhãs
Me sangrem o corpo,
Me banhem na imensidão
Das coisas, das horas
Jogadas sobre a grama!

Ah, que os amanhãs
Cheguem como caracóis,
Devagar, bem devagar
No caminho de cada um de nós!

Mário Gerson
Poeta

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Juazeiro humano do sertão


O poeta Antônio diz
Que é de ficar admirado,
Passar pelo sertão tão seco
E ver o juazeiro copado.
Símbolo da resistência
Do nosso semiárido.

Eu digo que mais resistente ainda
É o camponês dedicado
Faça chuva ou só faça sol
Não descuida do seu roçado.
Ama sua terra, sua lida,
A vida simples que é acostumado.

Ainda assim, há quem diga
Que o homem do campo
É um pobre coitado.
Sem saber da alegria
Que é fazer brotar a vida
Como fruto de seu trabalho.

Seu Carlinhos fala valente:
“Aquele pé de goiaba,
o de siriguela, acerola e limão,
Nós regou com suor, nós plantou com nossa mão.
Agora não dão valor ao que eu faço
E querem tirar o meu chão!”

Dona Ica fala mesmo:
“Da minha casa eu não saio, não!
Daqui eu só saio arrastada!
Se a sorte está lançada,
Seja qual for o meu quinhão,
Ao projeto do DNOCS, eu digo não!”

Resiste o homem do campo
Mantém firme a sua fé
Porque “Antes de tudo, um forte”
Sabe o valor que é
Ser contra a exploração e a morte
E pela vida se manter de pé!

Sendo os agricultores
O juazeiro humano do sertão
Façamos também nós, a defesa
Perante a tentativa de extinção
No território camponês,
Agronegócio não põe a mão!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Quando a música termina

Uma cerveja na mão,
o cigarro na outra,

e a mente distante
como um trem que parte
ao horizonte.

As pessoas são más
do outro lado da rua.
Elas te olham e te rejeitam
como sendo elas padrões
de felicidade.

E quando a música termina,
sua vida pausa na metade do filme
e você precisa de mais um gole,
mais um trago e
mais um novo começo.
 
Rodolpho 'Peaga' Rodrigues
Poeta

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Algo sobre prisões

Aquela alma que sorria,
que sentia a vida como música,
como arte,
agora sente na pele
as notas ténues
que soam entre realidade
e insanidade.

Estar preso a esta vida,
a essas notas, nesse mundo,
é como desrespeitar uma mãe,
ou seus desejos.

É como estar no fundo do copo,
submerso em meio a toda aquela
bebida quente, que conforta.

O que se espera é um
quebrar de grilhões
e cifrões,
até que se sinta alivio.

Mas o único alivio
vem do isqueiro ascendendo
aos céus,
como um pássaro que voa
apenas em sua gaiola,
ou como as grades
no seu portão, ou
todo esse blábláblá midiático
corrosivo.

Diabos, homem, levante-se
ao menos para trocar de canal
ou desligar-se, enfim,
dessa prisão.

Rodolpho 'Pêaga' Rodrigues
Poeta

domingo, 18 de novembro de 2012

Toda paz



Exalam,
vem dos poros;
mas neles
o carrapato a paz encerra.
Vocês transmitem paz
mas a reprimem...
está nos olhos e na alma
a rosa que não morre,
vocês transmitem paz
mas a reprimem...
se for medo
desenterro o morto que espera
o anjo.
Você transmite paz
mas a reprime...

E no fim dest'avenida,
tudo,
mas absolutamente tudo,
é paz reprimida.

Yuri Hícaro
Poeta

sábado, 17 de novembro de 2012

À mercê do Eu



Estou onde meus dedos doem...
Onde meus dedos somem,
Na fagulha acesa do dia
Assombrando solitários sóis,
Que alumiam vagas manchas de saudade,
Impregnadas numa pele qualquer.

II
Meus amanhãs nunca morrem
Nesta soma comum de tantos nadas,
Em que se solidificam vertigens.

III
Quantos corpos, nesta noite,
Jogados ao relento das horas,
À mercê do Eu!

Mário Gerson
Poeta

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Poetas Solitários


À tristeza, que faz festa ao ver-me recebê-la. 



Nunca a felicidade foi boa inspiração para os poetas.
A tristeza sim é companheira incansável.
Faz e desfaz a cama,
Põe o café,
Serve a janta,
Dar-te o melhor banho,
Excita-o e extrai os excessos entre um desdém e outro.

A tristeza é esta donzela,
Guiando-me o lápis na mão para que ele não me perca o raciocínio.
É a música que a letra já nem reparo,
Embalando-me enquanto as palavras vêm dançando no papel surrado;
É a bebida barata me encarando para que não seja esquecida,
tanto quanto a mim, em dias festivos.

Tristeza é o maior de todos os amores não correspondidos,
Que encontra morada senão,
Nos braços cansados dos poetas solitários. 


Rayane Medeiros
Poetisa

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Cárceres


Os trens não me podem levar às galáxias, não os há,
e as andorinhas estão presentes com o verão em suas asas.
O banzo ancestral me impede de recordar seu rosto,
o rosto do meu avô, de minha ama de leite,
da cara dos fantasmas encarcerados no baú do quarto.
No peito, sufocados suspiros, ais de menino mimado
que lamenta a perda do brinquedo, o leite derramado, a tunda,
o castigo e o “Piraí” estalado nas pernas finas de saracura três potes.
Os trens não me levam daqui e os livros ainda não se lêem,
de páginas secretas e arabescos insondáveis: “_b-a-bá!”
A rua enladeirada pés não pisam e o automóvel a garagem interdita,
 todos os burricos são xucros não se deixam montar.
No canto do alpendre o mosquito se enrola
na teia da aranha em que todos estamos presos,
não importa a inocência, a culpa ou as asas.
O passado prendeu meu tio que matou por amor,
e o tio do meu tio, por demanda de terras.
Bicho-papão também não há, a luz elétrica espaventou
e no quintal Totó acorrentado, para não molestar as visitas.

Francisco Ferreira
Poeta

Na brisa do mar


Na brisa do mar
Os passos vão para longe
Distanciam-se de ti
Para um novo acolher
No local onde tu não estas
Mas, eternamente viverás

Do fundo do mar azul, espero
O nosso novo encontrar
A saudade fica presa a ti
E o desejo recorda em mim
Na distancia de um novo despertar
De um tal amor que nos une

Em cada regressar, adormeço
Solenemente na maresia do teu olhar
Sinto de novo o sabor a ti, salgado
Devolves-me o desalento de te esperar
Voltamos a viver nesse momento
O sentido azul de saber amar

Espera-me em ti que eu lá estarei
A cada passo de distância
Um novo mundo se levantará
Para outro maior voltar-mos a realizar

Infindável horizonte onde estarei
Sempre
Para te levar

Joana Fernandes
Poetisa

Primeira carta ao céu


Oh, manto azul que envolve a península esférica
Que me galga em pensamentos idílicos
Cubra-me também nesse momento cítrico
Pois minha razão não espera de tão histérica

Já farto da côdea oferecida seca arrefecida
Peço incessante para ao menos fitar seu horizonte
Já não mais suporto sobre meus olhos o peso do monte
E o frio da iniqua nevoa de mãos umedecidas

Trazei-me teu acalento em um sopro de seus divinos ventos
Trazei-me o brilho de teus astros fátuos

Dizei-me o caminho de teu quente ninho
Dizei-me como sair do descaminho

Pois o tempo que nos tornará um não demora
E apreça-se mais pelas mãos úmidas
Venho desejar de ti nossas mentes eternamente unidas
Mas de tudo o que eu mais quis foi não ir embora

Erick Silva
Poeta

Trapos de lembranças


Calço meu velho par de botas.
Cai bem com meu sobre-tudo surrado.
Saio pelo sereno de uma quase manhã.
Meus lábios roxos e trêmulos.
Minhas mãos se escondem,
em meus bolsos furados.
Caminho pisando em possas.
Possas que me ensopam.
Possas que me enfraquecem.
Me vejo em trapos.
Um triste trapo de boas lembranças.

Letícia Borges
Poetisa

Verdadeiros heróis


Foram me enrolando pouco a pouco
Foram calando minha voz
E devagarzinho fechando os meus olhos
Com um domínio cada vez mais feroz.

De repente veio um golpe,
Com uma peneira cobriram o meu sol,
Mas lá fora para todos eu era só beleza
Visto como o país do futebol.

Enquanto isso dentro de mim,
O meu cérebro prenderam,
Amordaçaram minha boca,
Os meus filhos por mim morreram.

Os militares da verdade
Fizeram de mim seu quartel,
Mandaram na vida e na morte,
Na linha dura queriam o mel.

Mas meu povo muito guerreiro
Mostrou a força de sua união,
Resistindo a ganância dos ditadores
Tornaram-se verdadeiros heróis da nação.

Jéssica Lima
Poetisa

Fixação da Forma


A forma não informa
Não forma a poesia
A forma não informa
A mente vazia
Nem toda forma
É vazia
Mas forma que informa
É rebeldia
Minha forma é cheia
De poesia
Minha poesia anseia
A mente vazia

Erick Silva
Poeta

Ser por si


Rendi-me à difícil tarefa de ser eu mesma
Estou vendada em uma floresta
Entregue aos lobos, a mais fácil presa
Daqui eu não saio viva, daqui eu não saio
Pois me seduz a sinceridade do instinto
Que não se encontra na fantasia do cordeiro
Inocente em sua farsa que não pressinto.
Rendi-me à difícil tarefa de sobreviver por mim
Sem esperar do outro um pretexto
Sem mais temer o tão temido fim.

Yáskara Fabíola
Poetisa

domingo, 14 de outubro de 2012

Renúncia



Não quero de tua face
Arrancar nenhum olhar
Nenhuma palavra ou confissão

Não quero de tua boca
Exalar o gosto e os perfumes
Dos outros corpos cansados
Que com vigor consomes

Não quero extrair de ti
O sentimento
Inconstante que te habita
A esperança irreal
Que me alimenta a alma aflita

Então não olhes pra trás
Dê-me um beijo de adeus
E se uma súplica surgir em meu olhar
Desvie teus olhos dos meus.

sábado, 13 de outubro de 2012

Rubor



Cogitou em ter-me,
Mas conteve-se em
Fantasiar-me -
Tocar-me,
Despir-me com seus olhos profanos.

Conteve suas mãos na encruzilhada,
Desviou-se,
Represou tentações.

Conteve as batidas eufóricas,
O suor insistente,
O rubor que vez ou outra lhe traia...

Conteve o desejo em possuir-me,
Inspirar-me novos versos,
Fazer-me tua, simplesmente.


Rayane Medeiros
Poetisa

sábado, 6 de outubro de 2012

Cinzas


"Não mandarei
Cinzas de rosas
Nem penso em contar
Os nossos segredos"
(À sua maneira, Capital Inicial)


Enterro agora – Sem choro e sem flores,
Os versos que te escrevi tão solenemente.
As lembranças mais profanas;
Os beijos sugados entre uivos;
A vontade em tê-lo Norte...

Enterro sem luto;
            Sem remorso,
O diabo de paixão que a ti devotei -
                           Arbitrariamente.


Rayane Medeiros
Poetisa

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Zero


Ele pode ser nada,
Mas pode ser tudo.
Ele pode diminuir um valor
Ou dobrar um número.

Se era 1 logo vira 10
E o contrário também o faz,
Se era 10 pode ser 0,1
A diferença da posição o número refaz.

A vida pode ser comparada ao zero
Pode ser tudo, pode ser nada,
Depende de onde coloca-se o número
Qual o valor de sua pegada?

Jéssica Lima
Poetisa

“Em espessa e úmida noite”:


É uma espessa e úmida noite,
Onde as verdes velas – que fervilham
Em obscuros misticismos – ardem
Indolentemente sob o olhar vítreo
Que dirijo até à tua sombra,
Adensada apenas pelo suor
Dos corpos que atiçam o desejo.

Tudo está longe, distante como
As estrelas que tremem solitárias,
E nós não compreendemos o meio
Das horas se escaparem – e o tudo
Que de mais venerável amparamos
Se esvai pelos ralos do Tempo…
A noite prolonga o seu declínio.
Atraídos pelo silêncio do murmúrio
Da nossa secreta canção de amor,
Somente nos distanciamos, vis,
Em contrastes de repulsa e paixão,
Invariavelmente pulsando no
Pequeno âmago que nos compõe,
Ainda que entregues estejamos
A esta infrutífera proscrição.

Mas como amo esse corpo de luz!
Teus cabelos de finíssimo cobre,
Teus olhos de verde marítimo!
És um sonho meu decalcado,
Sempre soube isso em mim…
Como desejaria apertar teus seios
Contra a virilidade do meu peito,
Segurar em tuas coxas com vigor,
Perder-me nos segredos de tua púbis…
Esvaziar uma secretária e dela
Fazer um amplo leito de amor!
Teu ventre tem os segredos da alma,
Teu enigmático sorriso as rimas
Que sempre ensejo capturar…

Nesta hora, não roubo beijos teus,
Doces como a brisa que me refresca;
Continuas nos trilhos desse mundo
Que, oculto, avança por teu ser,
Fazendo de ti aquilo que deveras és.
Navegas por oceanos mitológicos
E eu suspiro por ser o teu herói grego.
Na memória, ilusões de outras noites,
Onde o fogo passional nos consumia
Até à declarada exaustão, onde nos
Desdobrávamos em beijos e em
Tão coordenados movimentos,
Numa dança de maré ao ritmo
Dos nossos corações sedentos.

Mas o espectro da noite quente
Prende-nos ao vazio do espaço
Que languidamente ocupamos…
Por demais fatigados para resistir,
Caímos em um sono acordado.
Despertar-me-á o teu amor?
Os instantes fervem a dor que,
Incômoda, lateja em meu peito.
Não sei de sua certa origem,
Mas sei-a como estranho corpo
Em hora que seria perfeita –
Como chuva que tomba, fora
Da sua adequada estação.
Poderia ser diferente? Colorido?
Passam os instantes e enruga-se
A folha onde outrora esculpimos
O mais sublime dos poemas…

Pedro Belo Clara
Poeta

II


Invades-me, serenidade meiga
amiga dos momentos de triste solidão
De quão perdida me encontro, isolada na multidão
És uma luz nos momentos sombrios
Acalmas uma mente desajeitada, um coração inútil
Não fosse ele estar preso aos becos de saudade
Do que fomos, do que sentimos, do que vivemos

Não podemos sempre ficar, quando o movimento nos pede
Quando a necessidade nos acolhe num lugar diferente
Quando nos sentimos unicamente obrigados
Pensamentos de quem esta descontente
É o fado da vida no qual queremos vingar
Fugindo do desprezo do real, no acolher
Deste lugar ao qual não pertenço e que tanto me faz sonhar

Joana Fernandes
Poetisa

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Só me resta viver


Todo dia é uma viagem
E a estrada dá muitas voltas.
Um dia eu sou imagem,
No outro, pensamento...
Um dia eu me perco,
Afasto-me do meu intento...
E me encontro em outro mundo
No qual sou toda desalento.

Mas que incrível essa viagem
Que me trouxe brilho aos olhos,
Nervos à flor da pele
E roubou toda a minha atenção.
Não sei se hoje sou inocência
Ou se sou toda pretensão.

Degusto estas sensações
Como um enófilo ao sabor do vinho,
Lentamente... e tomada de emoções
Aquela que desconhecia o desalinho.

Nesta indecente viagem que chamam de vida,
Todos estão expostos à dor e à ferida.
Foge o prudente da vida que o cerca,
Mas, hoje, a prudência me deixou...
Que me alternativa me resta?

Yáskara Fabíola
Poetisa

I


Queria um dia alcançar os grandes feitos
Dos poetas que levo comigo no coração.
O drama das suas vidas, a tristeza das suas realidades.
Faz existência em mim, como a luz na escuridão!
São eles que dão sentido à vida eterna do meu ser.
Cresce em mim o desejo sofrido de conquista,
Dor de um desejo inatingível e sede de ter...

Sonharei até ter palavras sagradas para ditar.
Elas não são fruto da ilusão, são receios,
São angústias, amores e solidão...
Sou um ser sofrido, triste e de paixão...
Este é o meu motor, a minha raça e a minha dor.

Estas que, para mim, são sagradas, são banais...
De todos aqueles que as possam ler e não as entender,
São gotas de chuva no oceano de emoções...

Joana Fernandes
Poetisa

Amor viral



Você só quer me ver sofrer,
Mas, infelizmente não sai da minha cabeça...
Dessa paixão não pude me defender,
Só quero que um dia eu te esqueça...

Esse amor é como um vírus na minha mente,
É algo que me atormenta dia e noite...
Não queria te amar intensamente,
Só quero que um dia possa livrar-me desse açoite.

Sei que vou encontrar alguém que me ame de verdade.
Alguém que, comigo, se importe...
E que, no coração, não tenha maldade...
A esse alguém serei fiel além da morte.

Malu Naara
Poetisa

sábado, 22 de setembro de 2012

Vestes




O aceito como minhas vestes -
Cobrindo ou despindo minhas vergonhas.
                                               
O aceito como se fosse minha própria carne;
                                   Meu sangue;
                                   Meu ego em demasia.

Aceito tão somente porque és meu ser habitando outra pele,
E me completas quando em suma,
Penetra minhas lacunas.


Rayane Medeiros,
Poetisa

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Guerra humana


Homens exaltando homens,
Mesma raça em diferentes classes
Curvações diante de deuses de carne e osso
Várias origens, diferentes faces.

Escolhidos por quem não escolhe,
Deus não quereria entregar o mundo à perdição
Permitindo que os reis comandem a vida e a morte
Sendo tratados com exaltação.

Desigualdade banhada com sangue,
Sangue dos próprios irmãos.
Igualdade de longe olha
A destruição de toda nação.

Verdadeiro ser escondido
Por traz de agradáveis frases,
Inveja nos olhos dos inimigos
Que se fazem de amigos para que despercebidos passem.

Prepotência aliada à ganância
Ilude a cabeça daqueles que se julgam fortes.
Soberba fecha os olhos dos homens
Fazendo-os quererem sempre ser os melhores.


E todos os maus sentimentos
Se reúnem para a guerra
De homens contra eles mesmos
Bandeira branca só debaixo da terra.

Pisar em cabeça como degraus,
Assim caminha a humanidade
Com passos duros na escada da vida
Que nunca viverão de verdade.

Jéssica Lima
Poetisa

Diálogo de suspiros


ELE:

Sob esta noite de estrelas,
Abro meus braços ao mar
Que reluz como negro ouro
E lanço meus beijos ao vento,
Na esperança de que cheguem
Até bem perto de ti.

ELA:

Que, ao sentires a brisa a te tocar,
Possas desfrutar do calor dos meus lábios
Acariciando a tua aveludada pele,
Saldando a dívida que a cruel saudade
Alimentou, incessantemente, nos porões
Das nossas almas enamoradas...

ELE:

Oh, meu amor…
Sei-te longe, mas sinto-te perto!

São teus braços que me amparam
Na solidão da noite escura,
São tuas brandas carícias
Que sorrisos dão ao meus dias,
São tuas doces palavras
Que inundam a amargura
De meus tristes sonhos!…

E em inquietações desperto,
Por ti procurando, a meu lado,
Na emudecida frieza do leito
Feito de lágrimas e de suspiros.

Um dia, amor, um dia…
Segredar-te-ei cada eco
Que ribomba em meu coração
E, com rimas que só eu sei,
Erigirei o derradeiro poema,
Aquele que, entre sussurros,
Dirá o quanto eu te amo,
O quanto eu anseio
Pela luz do teu olhar.

ELA:

Não temas as noites frias, meu amor,
Pois, para cada suspiro teu,
O meu afago mais sincero;
Para cada lágrima tua,
Um verso meu de conforto,
Uma nota de saudade –
Aquela que só aumenta o desejo
De te ter em meus braços,
Acalentando cada sussurro
Desse teu cintilante coração
Que, ao chamar por mim,
Descompassa o ritmo do meu.

Também te sinto perto, amor meu...
Mesmo que a distância insista
Em nos desafiar; mas… não temas!
Desta batalha vencedores seremos!
E, como doce recompensa,
O mais puro dos sentimentos
Nos concederá a sua companhia,
Pelo resto de nossas existências.

Lavínia Lins & Pedro Belo Clara
Poetas

Confissões


É por tanto te amar
Que te liberto, meu amor –
E não mais as cruéis milhas
Nos farão sofrer e ansiar.
Perdoa-me se assim julgo,
Perdoa-me se me afasto
Para curar minhas feridas
Na cabana do Tempo Eterno,
Mas… o coração não suporta
O peso de mais uma chaga.
Nunca um amor me doeu tanto,
Nunca me dilacerou tanto assim…
Talvez nunca um outro tenha
Sido tão sólido e deslumbrante
Como aquele que trouxeste em ti.

Sejamos livres! E nossos sorrisos
Continuarão sempre paralelos,
Pelas curvas e rectas do caminho,
Até que o sol se ponha por sobre
Todos os que fincam seus passos
Na dócil areia dos anos fugidios.
Talvez em um outro qualquer lugar
Os ventos nos fossem favoráveis,
Mas nestes dias de denso negrume
Não há embarcação que resista –
E que tal saibamos aceitar.

Ah… É por tanto te amar
Que te liberto, meu amor!
Estende estas veras palavras,
Cinzeladas pela dor que punge.
Não derrames qualquer lágrima –
Delas não serei merecedor;
Não suspires sequer por mim –
Não serei eu o teu eleito.
Já tanto nos amámos, em silêncio,
Já tanto partilhámos à sombra
Dos dias avidamente consumidos –
E que isso, por ora, nos baste.

Hoje, nada para nós converge…
Desígnios dos Deuses? Não o sei…
Apenas que todo o porquê comporta
A sua infalível e justa causa.

É por tanto te amar
Que desejo erradicar esses soluços,
Essa angústia do impossível;
É por tanto te amar
Que te sopro pétalas como quem
Cala o impulso de um fervor;
É por tanto te amar
Que te liberto… meu amor.


Pedro Belo Clara
Poeta

Esse teu olhar


Afixada nesse teu encanto, eu canto
E sinto, sinto devagar
Meu corpo flutuar
Num vazio que logo é preenchido.
Em poucos minutos deparo-me comigo
Submersa nessa amor, e assim prossigo...
Nada é mais doce que esse teu olhar
Ah como é penetrante, nítido,
Verdadeiro como o azul do mar.

Aridiana Dantas
Poetisa

Da vida um livro


O livro da vida nos permite
Escrever desejos e sonhos,
Mas é na prática que nos esforçamos
Para realizar nossos planos.

Cada folha um dia
Em cada dia uma lista
De coisa e pessoas
Que queremos registrar na vida.

Algumas folhas se perdem
Com um tempo se apagam
E novos capítulos se mostram
Para um mesmo livro, novas marcas.

Empilhar livros
Ou empilhar memórias
Que jamais serão apagadas
Sendo escritas novas histórias.

Jéssica Lima
Poetisa

Percepção


Guardo em meu infinito
Sonhos não revelados
Que gritam como um trovão
E o discurso não aludido
Pulsando na circulação.

Percorro as singelas curvas
Com minhas convicções,
No sigilo de palavras turvas,
No eflúvio das ilusões,
Respiro constatações silenciosas.

Imersos em uma solidão arredia,
Meus ouvidos apreciam
Uma melodia inconsciente,
Apenas os meus olhos enxergam
Alguns detalhes inerentes.

O vento carrega a poeira,
Ao canto de uma noite fria,
Mas é à incandescente lareira
Que a minha percepção assobia...

Não há ciência sem erros
Nem mundo sem imperfeição
São falhos os meus acertos
À procura de uma razão...

São detalhes soltos em trovas
Que tentam refazer-me em versos,
Envolta em tudo que crer,
Sou apenas mais um ser
A vagar pelo universo.

Ana Rita Lira
Poetisa

Inocência


Quando eu era criança
Meus pensamentos eram trens velozes
Que pelos trilhos da vida
Nunca ousaram passar.
Gostava de ver o mundo
Com olhos de inocência,
Imaginava que todas as pessoas eram boas
E que nessa corrida da existência
Tinha pouco a perder e muito a ganhar.

Mas o tempo passa...
E como fumaça que some no ar
Percebi que nada é de graça,
Tudo se gasta, morre e envelhece,
Essa era a lei que eu na minha humildade
Não pude mudar.

Enxerguei que o homem de sangue ruim,
Egoísta, arrogante, traça com seu próprio punho
Sua morte, o seu fim.
Difícil acreditar nessa realidade
Onde tantas crianças sujas, descalças e famintas
Mendigam um pedaço de pão, um olhar de piedade.
Enquanto isso, homens poderosos em seus altos palácios
Cospem-nas a face, sem nenhum disfarce
E elas, com lágrimas nos olhos, voltam para o duro solo,
À morada simples de saco e papelão
E aguardam com fé um ser humano bom
Que olhe para elas
E por algum motivo estenda-lhes a mão.

Aridiana Dantas
Poetisa

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Amor adolescente


Foi numa noite em que tudo começou
Naquele momento o fim via-se longe
Eu lembro bem, a lua subia tímida sobre o sol que já brilhou

Por mais que haja astros e satélites,
Naturais ou não
Entre a lua e o sol eu escolho você

Por mais que eu tente mensurar um beijo
Tracejos de um amor que em breve
Se encontrará em plena paixão

Nosso amor adolescente e carente
Mesmo não presente
deixará a distância em vão.


Ismael Cividini Flor
Poeta

sábado, 8 de setembro de 2012

Deflagrando-me



Nada lhe suplico, além das noites cretinas
Quando comigo cumplicia dos
Teus impulsos felinos,
O hálito com que suga minha saliva,
Teus afagos de cão abandonado
Ansiando meus poros
                       Dilatados,
                       Inflamados,
                       Úmidos,
Ao senti-lo vivo,
Deflagrando-me.


Rayane Medeiros,
Poetisa

domingo, 2 de setembro de 2012

Aceno



Ontem o acaso nos encontrou na rua.
Quis desejar-nos bom dia,
Dar-nos um abraço prolongado,
Falar-nos da vida pós Pra Sempre.

Pensou em questionar o amor defunto,
Os planos findos no retrato.

Ontem o acaso nos encontrou na rua.
Deu com a mão à contragosto,
Dobrou a esquina,
Levou o resto de nós no aceno.


Rayane Medeiros,
Poetisa

sábado, 25 de agosto de 2012

[Ex]Pulsar

O metal frio está em suas mãos...
A lâmina percorre seu destino,
Escorre aquele líquido vermelho,
Esvaem-se pelo ralo os seus problemas,
Extinguem-se as dores d’outrora.

A cada novo caminho – a lâmina –
Um alívio, um delírio, um perdão...
Ele já conhecia aquela sensação;
Era a mesma de vezes passadas.

Ninguém, alguma vez, ouviu o seu grito;
Era doloroso viver em seu mundo.

Sua carcaça sem cor, estendida, vazia;
Sua alma anistiada de seu corpo
Divagava por entre pensamentos vagos,
Emaranhada em meio a sentimentos putrefatos.

É assim que morria todos os dias,
Naquela hora da agonia
Onde os sonhos são apenas sonhos.
O beijo da morte tornara-se uma rotina.

Privado do direito de desejar.
Era apenas mais um despojo de uma sociedade pétrea.

As flores mortas irão abraça-lo.
Todos dirão que ele foi bom;
Mas nenhum se perguntará se foram bons!

A compreensão não foi uma dádiva.
Nunca entenderam em vida,
Jamais desejarão em morte.

O chão vertia-se em futuros,
Aos poucos acabava a tinta de seu poema derradeiro.
Há quem diga que aquele fora o seu melhor sorriso.


Luiz Luz
Poeta