segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Juazeiro humano do sertão


O poeta Antônio diz
Que é de ficar admirado,
Passar pelo sertão tão seco
E ver o juazeiro copado.
Símbolo da resistência
Do nosso semiárido.

Eu digo que mais resistente ainda
É o camponês dedicado
Faça chuva ou só faça sol
Não descuida do seu roçado.
Ama sua terra, sua lida,
A vida simples que é acostumado.

Ainda assim, há quem diga
Que o homem do campo
É um pobre coitado.
Sem saber da alegria
Que é fazer brotar a vida
Como fruto de seu trabalho.

Seu Carlinhos fala valente:
“Aquele pé de goiaba,
o de siriguela, acerola e limão,
Nós regou com suor, nós plantou com nossa mão.
Agora não dão valor ao que eu faço
E querem tirar o meu chão!”

Dona Ica fala mesmo:
“Da minha casa eu não saio, não!
Daqui eu só saio arrastada!
Se a sorte está lançada,
Seja qual for o meu quinhão,
Ao projeto do DNOCS, eu digo não!”

Resiste o homem do campo
Mantém firme a sua fé
Porque “Antes de tudo, um forte”
Sabe o valor que é
Ser contra a exploração e a morte
E pela vida se manter de pé!

Sendo os agricultores
O juazeiro humano do sertão
Façamos também nós, a defesa
Perante a tentativa de extinção
No território camponês,
Agronegócio não põe a mão!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Quando a música termina

Uma cerveja na mão,
o cigarro na outra,

e a mente distante
como um trem que parte
ao horizonte.

As pessoas são más
do outro lado da rua.
Elas te olham e te rejeitam
como sendo elas padrões
de felicidade.

E quando a música termina,
sua vida pausa na metade do filme
e você precisa de mais um gole,
mais um trago e
mais um novo começo.
 
Rodolpho 'Peaga' Rodrigues
Poeta

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Algo sobre prisões

Aquela alma que sorria,
que sentia a vida como música,
como arte,
agora sente na pele
as notas ténues
que soam entre realidade
e insanidade.

Estar preso a esta vida,
a essas notas, nesse mundo,
é como desrespeitar uma mãe,
ou seus desejos.

É como estar no fundo do copo,
submerso em meio a toda aquela
bebida quente, que conforta.

O que se espera é um
quebrar de grilhões
e cifrões,
até que se sinta alivio.

Mas o único alivio
vem do isqueiro ascendendo
aos céus,
como um pássaro que voa
apenas em sua gaiola,
ou como as grades
no seu portão, ou
todo esse blábláblá midiático
corrosivo.

Diabos, homem, levante-se
ao menos para trocar de canal
ou desligar-se, enfim,
dessa prisão.

Rodolpho 'Pêaga' Rodrigues
Poeta

domingo, 18 de novembro de 2012

Toda paz



Exalam,
vem dos poros;
mas neles
o carrapato a paz encerra.
Vocês transmitem paz
mas a reprimem...
está nos olhos e na alma
a rosa que não morre,
vocês transmitem paz
mas a reprimem...
se for medo
desenterro o morto que espera
o anjo.
Você transmite paz
mas a reprime...

E no fim dest'avenida,
tudo,
mas absolutamente tudo,
é paz reprimida.

Yuri Hícaro
Poeta

sábado, 17 de novembro de 2012

À mercê do Eu



Estou onde meus dedos doem...
Onde meus dedos somem,
Na fagulha acesa do dia
Assombrando solitários sóis,
Que alumiam vagas manchas de saudade,
Impregnadas numa pele qualquer.

II
Meus amanhãs nunca morrem
Nesta soma comum de tantos nadas,
Em que se solidificam vertigens.

III
Quantos corpos, nesta noite,
Jogados ao relento das horas,
À mercê do Eu!

Mário Gerson
Poeta

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Poetas Solitários


À tristeza, que faz festa ao ver-me recebê-la. 



Nunca a felicidade foi boa inspiração para os poetas.
A tristeza sim é companheira incansável.
Faz e desfaz a cama,
Põe o café,
Serve a janta,
Dar-te o melhor banho,
Excita-o e extrai os excessos entre um desdém e outro.

A tristeza é esta donzela,
Guiando-me o lápis na mão para que ele não me perca o raciocínio.
É a música que a letra já nem reparo,
Embalando-me enquanto as palavras vêm dançando no papel surrado;
É a bebida barata me encarando para que não seja esquecida,
tanto quanto a mim, em dias festivos.

Tristeza é o maior de todos os amores não correspondidos,
Que encontra morada senão,
Nos braços cansados dos poetas solitários. 


Rayane Medeiros
Poetisa