quarta-feira, 31 de julho de 2013

Atemporal


As horas passam,
Os dias mudam,
Os meses chegam,
As estações acabam.

As flores crescem,
O mar evapora,
A luz desaparece,
As estrelas apagam.

A música cala,
A imagem some,
Os rostos envelhecem,
Os pensamentos mudam.

O rock vira pop,
As atitudes se aquietam,
A saúde reclama,
A vontade não mais inflama.

A alegria entristece,
A luz escurece,
O novo envelhece,
O ateu faz uma prece.

Tudo muda;
Tudo passa;
E eu aqui, imutável feito uma estátua...

Júlio Romão
Poeta

Silêncio

Calem-se os poetas,
Cessem suas penas,
Silenciem suas páginas,
Quebrem suas máquinas...

Hoje, unicamente,
As estrelas falarão sobre nós.

Luiz Luz

Poeta

Acordo com o tempo















Se tivesse eu nesse momento
Meus 7 anos de volta
Seria então consciente
Das riquezas que me cercavam
A casa estaria cheia
De gente e de alegrias
Minha mãe me pegaria no colo
Quando eu acordasse com medo no meio da noite
E eu me sentiria inabalável
Se pudesse eu falar com o tempo
Iria propor um acordo,
Que levasse os anos que me restam
Em troca de reviver os que já foram.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Os Alienistas (ou médicos caribeños)

No Brasil temos médicos
De todos os tipos:
Cardiologistas,
Neurologistas,
Urologistas,
Dermatologistas,
Endocrinologistas,
Ginecologistas,
Nefrologistas,
Até infectologistas nós temos;
Só nos falta - em grande quantidade,
Uma especialidade:
Os humanistas!

Luiz Luz
Poeta
 

Operário

As cores nos olhos das pessoas dessa terra
Não são como as cores que meus olhos costumavam ver
No rosto das pessoas das ruas onde passei
Na terra que me viu nascer
A mãe que me criou já não me acalenta
Hoje os tempos são tortos
Eu caminho por aí, entre tantos
Só mais um operário, inoperante da vontade de viver

segunda-feira, 29 de julho de 2013

XXVI

Desculpe-me, Amor,
Ter lhe colocado:
Nos versos,
Nas rimas,
Nas prosas...
Mas, precisava,
Contar ao mundo
Quem era o mundo de alguém.

Luiz Luz

Poeta

Renitente

Um misto de palavras e indagações
Bagunçam meus pensamentos
Sou herói sem roteiro
Sobrevivente sem paradeiro
Que na noite se perdeu
E em minha cabeça
Existe um mundo
Onde as coisas se repetem
As emoções se excedem
As dúvidas se acumulam
As lagrimas se confundem
E uma voz me persegue
A voz triste e renitente do meu eu enfraquecido
Por meus medos sufocado,
Por meus fracassos oprimido
A voz de um eu persistente
Que inconformado pela morte de meus sonhos
Me arrasta, por aí, noite a dentro
A ecoar em meus ouvidos
Revirando meus sentidos
Sem me deixar pegar no sono.

domingo, 28 de julho de 2013

Na maré

Que absurdo!
Esses manifestantes
Atacam bonecos desarmados
Sem chance de defesa
Que absurdo!

Mas e os mortos da Maré?
Que a maré os leve,
Que a maré os seque,
Que a maré os vele...

Luiz Luz

Poeta

Confrontamento

Na noite mais escura
Na boca mais fria
Na palavra mais dura
Na paixão mais vazia
Eu refaço a minha alma
Em face da emoção mais sombria
Pois somente em face do maior perigo
E do maior temor
Somente em confronto com meu ego
Posso conhecer-me
E somente assim poderei saber na realidade o quão resistente eu sou
Pois só poderei ser forte de verdade
Quando deixar de ser covarde
E aprender a olhar nos olhos desta dor.

sábado, 27 de julho de 2013

Poema do Corpo Entregue (ou Poema de Descoberta)



Seu corpo era como um poema nunca lido,
onde se descobre verso por verso.
Teu sexo era céu azul;
Era como se unir a uma poesia intensa e rápida,
meio apressada e inteiramente natural.
Mas que ficou na cama,
esperando ser concluída,
a espera de uma próxima vez.

Jedaías Torres,
Poeta

Questionário

Minha alma é uma folha em branco
Um questionário invisível
de indagações incognoscíveis
Eternamente esperando por respostas.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Amo-te


Amo-te de um amor louco que nunca se satisfaz
Nem em alma nem em corpo
E todo amor do mundo
Ainda parece pouco
Para caber no sentimento que por ti devoto
Sou feliz por ter amor
E ainda assim sofro
Por não poder passar em ti o tempo todo
E não poder fazer de ti meu próprio corpo
Amo-te e por amor me sinto louco
E por querer viver por ti me sinto tolo
Inebriado pelo desejo de poder despir-te em pele e carne
Para que eu possa te enxergar além do osso
Do plano físico que nos reparte
E que nossas almas possam finalmente ocupar em outro plano o mesmo lugar no espaço.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Dilacerados



Eu te dilacero,
Tu me dilaceras
E na saga diária dessa carnificina nossa
Meu peito vai sangrando a ardilosa
E sutil queda dos seres
No nada que se forma de prazeres.

Eu te dilacero,
Tu me dilaceras...
E no açougue de nossas almas
Os corpos vão sangrando outras plagas...

Tu me dilaceras,
Eu me dilacero
E, somente assim,
Desprendido de mim,
É que me vejo na sombra
Do que me encerro.

Eu me dilacero em efêmeros terremotos,
Em noites sombrias e densas,
Em intensidades e vertigens,
Em solidões e devaneios,
Enquanto Pink Floyd toca na sala
E os vinis me espreitam!

Tu te dilaceras e eu te dilacero...
Assim, seguindo esta jornada,
De capinar no peito e na alma,
Arrancamos a carne na madrugada.

Mário Gerson
Poeta