segunda-feira, 30 de julho de 2012

Falácia


É inevitável,
O homo sapiens se encolhe
Quando o mal
Toma o seu ser de medo.
Encurta-se
O caminho de toda espécie.
A união inexiste!

A doença maléfica,
Que tanta opressão proporcionou,
É o refúgio.
Dispensa migalhas numa viela.
Desvia o foco
Da verdade perseguida,
Tanto almejada.

O homem
Regressa
Aos grilhões da caverna.

Alexander Moura
Poeta

Se eu soubesse voar...


É esse sentimento leve como a brisa da manhã que eu canto,
A sensação de receber energia de uma fonte inesgotável,
Alimentada por um sentimento de querer mais e mais.
Da voz doce e aveludada, retiro a força que me faz crer
Que a distância é apenas uma vírgula, incapaz de colocar
Um ponto final no desejo de tê-lo ao alcance das minhas mãos.
Ah… se eu soubesse voar!

Olharia você pelo ângulo mais profundo e encantador do seu ser,
Não perderia um só detalhe e, de volta, traria um pedacinho
Da luz que da sua alma emana, feito mágica;
Ao fechar os olhos, estaria ao seu lado –
Mesmo tão longe, estaria cada vez mais perto.
Mas, um dia... Ah, um dia!...
As luzes hão de se encontrar, num eclipse único, singular
Sem métricas e sem limites,
Formando, de dois, um só inteiro.

Lavínia Lins
Poetisa 

Contorno


Aprendi na marra
O que o nó não ata,
O que o calor não mata,
O que o dó não cata.

Joguei no beco,
O que pensei ser erro,
O que esqueci, por medo,
O que soltei preso.

Descartei com fome
A dor que consome.
Bradei: qual o nome
Daquele que some?

Cortei o pano
Do amor, o insano.
Será este o meu engano:
Não ver o claro além do dano?

Rachel Nunes
Poetisa

Efeitos dum sorriso


Os pilares se estremeceram,
As paredes desmoronaram-se adentro
Senti as faces queimarem como fogo
Um vermelhidão invadiu o rosto,
Ao ver o teu sorriso
Iluminando aquela tarde tempestuosa.

Sousa Neto
Poeta

domingo, 29 de julho de 2012

Sextilha sem pontos



Não abandono os meus versos
de um exclamar bailarino
nem os tons reticentes confessos
do meu viver virgulino
pois nada tenho de certo
a pontuar meu destino.

Leocy Saraiva
Poetisa

Os versos que te guardei

Os versos que te guardei
     Não carregam bandeiras,
     Não exaltam cânticos,
     Não estão nos muros;
Estão na mente, no corpo, no beijo...

Os versos que te guardei
     Não estão nos livros,
     Não estão nos templos,
     Não voam ao vento;
Estão na pele, nos olhos, no cabelo...

Os versos que te guardei
     Não confidenciam segredos,
     Não afastam seus medos,
     Não conjugam seu verbo;
Estão na boca, mordida, pescoço...

Os versos que te guardei
     São vida, mesmo em morte;
     São morte, mesmo em vida.

Os versos que te guardei
Serão sempre os versos em que te perdi.
Luiz Luz
Poeta

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Gente



Eu não quero gente.
Eu não quero gente hipócrita,
Gente que mente.
Quero viver isolado,
Longe também da verdade conformada,
Pois todos acreditam que gente fala,
Que gente pensa, que gente (inventa).
E todos querem, então, que a gente invente.
Eu não quero a gente corrompida,
Que ama o erro.
A gente que gosta de gente maldita.
Cansei de seres humanos.
Fazem-te aceitar sem distinção,
Decorar sem razão...
Fingem precisar da música,
Da dança e da arte,
Gostam de cálculos e ciências...
Que para nada servem.
Nada além de sobrevivência...
Algo importante?
Sim... Mais do que viver?
Cansei dos falsos,
Cansei dos realistas,
Cansei dos seres humanos,
Cansei de ser humano.

Roanny Phanuelly
Poetisa

Hipnose



Já é tarde, tenho que ir.
Mas ainda sinto os raios de sol,
Minhas pálpebras queimam.
Já é tarde, e logo os raios de sol
Darão lugar aos claros raios lunares.
Já é tarde, e meus pés,
Que ainda pouco abraçava a areia,
Agora se envolvem e embebem-se da maré cheia.

Já é tarde, e eu sei que é tarde,
Mas esse cheiro de brisa,
Ah, esse cheiro de brisa
Tem cheiro de liberdade!
E o horizonte me prende...
Quem sabe um navio apareça,
Mas já é tarde, quase noite,
E os navios não ancoram longe dos portos.

Ana Luíza Dantas de Lira
Poetisa

Animal urbano



A sirene toca, o alarme dispara,
Late o cachorro, mia o gato.
Lá fora, no asfalto, chiclete gruda no sapato
E a menina puxa o casaco da mãe.
Passam próximas as cabeças,
Os corpos quase se chocam.
Na confusão das ruas
Tudo é compacto, apertado,
Amassado, deformado.
É errado tanto caos,
Tanta sujeira, tanto atrito,
Tanto esgoto, tanto rosto.
Mas a gente finge que não,
Que não é antinatural,
Que é até normal viver nesse sufoco,
Mendigando, com esforço, um espaço no varal.

Danielle Freitas
Poetisa

Lembra quando...



Voar no céu do tempo,
Trazer de volta o momento
Em que tudo era tão fácil.
Fechar os olhos um instante,
Deixar o medo na estante
E então se deixar levar...
Foi sempre assim, estranho?
Sentir um amor sem tamanho
E uma saudade quase palpável?
Às vezes, canso de esperar
Que minha vida arranje um lugar
Pra assim deixar o passado ficar...
E até lá eu fico escondida,
Observando cada ferida,
Deixar sua cicatriz.
E, dessa forma, o tempo passa,
A gente cresce e se adapta
À solidão que a ausência quis.

Yáskara Fabíola
Poetisa

Minha lápide

Em minha lápide
Sei que há de ter
Palavras desenhadas
No mármore frio
Dizeres simples, mas
Impregnados de mim

Ao lerem, todos saberão
Que na verdade,
Vivo ainda estarei.
Como uma Fênix das cinzas,
Ressurgindo do pó, voltarei.
Pois o poeta nunca morre,
Sua obra não permite;
De imortalidade se reveste.

A poesia é assim: eterna!
E eterna é a vida do poeta;
Que renasce em cada verso lido.


Luiz Luz
Poeta

domingo, 22 de julho de 2012

Contorno



Aprendi na marra
O que o nó não ata,
O que o calor não mata,
O que o dó não cata.

Joguei no beco,
O que pensei ser erro,
O que esqueci, por medo,
O que soltei preso.

Descartei com fome
A dor que consome.
Bradei: qual o nome
Daquele que some?

Cortei o pano
Do amor, o insano.
Será este o meu engano:
Não ver o claro além do dano?

Rachel Nunes
Poetisa


Ilustração: Trindade, obra de José de Almada Negreiros

sábado, 21 de julho de 2012

Pulsos de Anja Lechner



O teu corpo recebe em seu leito um verbo distinto a cada noite.
Pequenos afazeres da casa protegem o dia de outros assuntos.
Recosto-me na sombra gasta do abismo a contar teus beijos.
O primeiro me ensina os segredos da pólvora.
Outro me faz crer que posso voar.
São como desafios silenciosos os pequenos rostos boiando no espanto de cada olhar.
Sinais de desordem que a vida elege em seu trânsito fugaz pela prosperidade do tempo.
Palavras com que escavo a invisibilidade de teu vulto.
Silêncio que abrigamos ao lado delas para que preservem o que sabem a nosso respeito.
O movimento pendular de teus beijos acentua o labirinto que tecem por dentro e por fora de meus lábios.
Um braseiro descreve as imagens do desejo como amuletos vorazes.
Rebatizo teus ritos como quem desvenda as virtudes da tempestade.
O teu corpo sofisma os disfarces da noite com seus espectros verbais.
Reconheces a volúpia indecifrável de cada pantomima?
Ainda recordas o nome com que me fiz passar por ti?

Eu mesmo tratei de esquecer-me, para que não tivesses como voltar.

Floriano Martins
Poeta

Relento





Não há paz neste quarto,
Não há paz no próximo,
Não há paz em mim,
Nesta cúpula de desagrado.
Redesenhe minha vida,
Mapeie caminhos tortuosos,
Cubra-me esta ferida
Com seus feitos grandiosos...

Desisti do meu destino
Ou ele desistiu de mim?
Larguei minha mente em desatino
Ou foi ela que fugiu de mim?
Estou emudecida, pois escolhi assim
Uma decepção nem sempre é o fim
E no fim... Só resta a decepção,
Dolorosa conclusão...
Que me guia à rendição.

A fuga não é a resposta,
Mas é a única opção.
Desconheço a estrada onde piso
E sofro o peso de minhas escolhas
Que me esmaga sem piedade
Sob uma pilha de erros e mentiras.

Não há paz neste quarto,
Pois não se fez paz
Não há paz em mim...
Não me descobri capaz
De jogar fora o que me adoece,
O que me entristece, o que me desfaz.
Dizem que tudo tem sua hora
E que o tempo é o melhor remédio,
Então espero um tempo eterno
Que irá me curar deste eterno tédio.

E então o caos se instalou...
Permanente, imutável, enlouquecedor
E, ainda que louca, meus braços estão abertos
Para ti, para o mundo, para nada,
Sob meus pés não há apoio...
Em minha mente não há certezas...
Em meu coração, só acúmulo de tristezas...
E em meu rosto, um sorriso desbotado
Que diz que esse momento amargo
Não me fará fracasso, não me fará passado.

Yáskara Fabíola
Poetisa


Ilustração: Namoro - obra de José de Almada Negreiros.

Espinho na carne



Não se envaideça, menina,
Pois sua rima é rima de bailarina!
Se a música cala,
Acaba a rima.
Se a rima acaba,
Permanece, ainda
O calo
No pé da bailarina.

Ana Luíza
Poetisa

Gravatá


Para mamãe (D. Lourdes Pinheiro)

Gravatá... Oh! Meu Gravatá
Que saudade que eu tenho
Do meu velho Gravatá!

Da lagoa bem limpinha,
Do meu tempo de criança,
Dos caícos e das piabas,
Que eu gostava de pescar...

Pra comer bem fritadinha,
Com beiju e com farinha...
No almoço, na escolinha,
Ou quando vinha de lá pra cá...

Era lindo quando o sol trazia o dia,
Como eram belas tuas noites de luar
Que saudade que eu tenho
Do meu velho Gravatá!

A choupana arrumadinha
Dava gosto de morar,
Rodeada do roçado
Que mamãe ia cuidar...

Da porquinha bem cevada
Que ajudei mamãe criar,
Que saudade que eu tenho
Do meu velho Gravatá!

No roçado as fruteiras
Dava gosto de olhar:
Sapoti, banana, manga,
Caju, goiaba e araçá.

Do roçado se tirava a mandioca
E na casa de farinha
Eu ajudava a preparar...

No engenho tinha mel de furo
Dava para se lambuzar...
Com inocência se vivia,
A pobreza não doía
Tinha força pra trabalhar!

Hoje, meu querido Gravatá,
Uma gente diferente
Veio aqui te habitar...

A lagoa abandonada
Dá vontade de chorar...
O trabalho, com amor,
Não existe mais aqui...

Por amor nada se faz
Tudo tem que se pagar
Com dinheiro, a alto preço,
Inda ficam a murmurar...

Eu te amo, minha querida terra,
Apesar de tudo esta tão diferente,
Tanta gente tão mesquinha
Que ocupa este lugar...

Mas sei que ainda existe
Gente que sabe amar
Esta terra abençoada
Que é meu velho Gravatá!                


Chumbo Pinheiro
Poeta

Amargura



Vê que afunda sob os meus pés
a areia desta vida,
que escorre, de tão tímida,
esta que o vento não varreu...
E que me custa a amargura
dos caminhos que insisto em trilhar,
e cada passo é um tropeço,
é o meu penar em direção ao breu.

Janaine Martins
Poetisa

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Pescador

Pescador, o que trazes na rede?
Tens estrelas do céu do mar?
Traz pra mim um pouco de imensidão;
Quem sabe assim, aquiete o meu coração.

Pescador que trazes contigo a calma;
Ensina-me a navegar no mar da vida.
No vai-e-vem das ondas, perco-me.
No partir e no voltar, encontro-me.

Pescador, o que trazes na rede?
Tens estrelas do céu do mar?
Dou-te uma dose de juventude;
Em troca, empresta-me tua bravura.

Pescador mostra-me o caminho;
Mesmo que pareça distante.
Fortaleça-me em cada despedida;
Prepara-me para cada regresso.

Pescador, o que trazes na rede?
Tens estrelas do céu do mar?
Leva daqui essa incerteza,
De que o amanhã não virá.

Pescador, se acaso encontres um amor,
Traz pra mim sem demora.
Mas trate-o cuidadosamente,
Como amor de vida inteira deve ser.


Luiz Luz
Poeta

Maria, Maria



Maria que nunca ria,
           Que nunca saía,
           Que nunca se atrevia.

Maria que não tinha tempo,
           Que não tinha sonhos,
           Que não tinha vida.

Maria às vezes lia,
           Às vezes chorava,
           Às vezes se escondia.

Maria queria um amor,
           Queria pôr o melhor vestido,
           Queria dias festivos.

Maria que nunca ria,
           Que nunca saía -
           Deixou os pratos na pia,
          As frustrações debaixo do tapete,
          As flores que já não mais se abriam.
Um dia se atreveu:
Fez as malas,
Encheu-se de coragem,
Partiu.

Maria que nunca saía,
Embevecida com a vida que nunca via,
Foi atropelada logo na primeira esquina,
Pela rua que nunca parava,
Que mais ninguém se aturdia.
No enterro,
Só seu companheiro inseparável:
O Vazio.


Rayane Medeiros
Poetisa

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Terremoto em Areia Branca

Agora vou lhes contar
Um fato que ocorreu
Numa cidade a beira mar
Onde um dia a terra tremeu
Esse lugar é o meu lar
Foi lá que o poeta nasceu

Certa vez o presidente
Do nosso Brasil varonil
Mandou um aviso urgente
Era uma notícia terrível
Que ia matar muita gente
Perigosa como um míssil

O presidente mandou falar
Ao povo de Areia Branca
De algo que tá pra chegar
Ia bagunçar essas bandas
E era pra se preparar
Enquanto a coisa tá mansa.

Chamou seu ministro
Da segurança nacional
Pediu pra riscar o dito
E enviar pra seu Babau
O delegado da cidade
Da cidade o delegado

Um telegrama mandou
Para o homem do xadrez
Escreveu e anotou
Pediu que fosse veloz
A mensagem que enviou
E essa já dizia assim:

“Um movimento sísmico
Próximo a sua zona.
10 na escala Richter
Epicentro na vizinhança
É grande o perigo
Fique em vigilância”

Mas a resposta não veio
O presidente quis saber
Que danado aconteceu
E foi até lá pra vê
Saber se a notícia deu
Pra cidade proteger

Chegando lá viu Seu Babau
Na entrada da cidade
E lhe perguntou pelo mal
Quis saber da gravidade
Que eles tinham passado
Durante a adversidade

Seu Babau foi falando:
Desculpe excelência,
Mas estava planejando
O ato de uma ocorrência
E depois da aflição
Findamos a delinquência

O movimento parou
Era desarticulado
Não sei quem o planejou
Mas a ação foi parada
Logo, logo expirou
Deu fim na bandidada.

Fechamos também a ZONA
Todas as putas presas
Não deixamos nenhuma
E apesar dos pesares
Elas já se aprumaram
Deixaram essa vida pra lá.

RICHTER tentou fugir
Mas aqui não se cria não
Levou um mói de pêia
E ainda apanhou na mão
Pra poder deixar disso
E sair dessa situação.

Bandido não tem vez
Se aqui quer bagunçar
Não importa o que fez
Se eu pegar vai apanhar
Até eu me satisfazer
Ou o juiz mandar soltar

Epicentro, Epicleison,
Epifânio e os outros
Dezenove irmãos
Foram tudo é preso
Entraram no camburão
Com destino à prisão.

Deu um trabalho grande
Feito uma muléstia
Tudo pela segurança
Do povo da minha terra.
Com muita perseverança
Acabamos os crimes.

Mas o senhor permita
Desculpar a demora
Por que não tinha dito
Mas não tive foi hora
Por causa do maldito
Evento que teve agora

De uma hora pra outra
Me aparece um tremor
Deixou as véias loucas,
Os bichos num alvoroço
Agonia não foi pouca
Todo mundo ficou louco

Abalou a comunidade
Se soubesse disso antes
Parava a precariedade
Pedia até uma ponte
Ao prefeito da cidade
Pra nos levar pra longe

Mas lugar nenhum não serve
Pra sair daqui, só melhor
E sendo assim: só o Céu!
Pois mudar pra lugar pior
Só se da cuca for léleu
Ou se o problema for maior

E o povo ia subindo
Pro Céu fazer morada
Mas sabendo que um dia
Depois de reformada
Retornava com alegria
Pra sua terra bem amada!

Luiz Luz
Poeta