segunda-feira, 30 de abril de 2012

Um poema por dia


Eu te escrevo um poema por dia, mas é segredo!
Eu te escrevo um poema todo dia
Na intenção de que minhas palavras te alcancem.
Não para que tenhas lembranças minhas,
Mas para que um sorriso te venha sem motivo
E uma borboleta pouse em teus cabelos...
Para que sintas o cheiro de capim santo - que deixa tudo tranquilo,
Depois do banho da noite, antes de dormir.

Eu te escrevo um poema por dia para agradecer estar vivo,
E pelo simples motivo de poder fechar os olhos e te ver.
Isso não me basta para as incuráveis horas de saudade,
Nem para as noites de desejos sem fim.
Mas me vale para escrever meus versos -
Nos muros, nos livros velhos e em mim.

Camila Paula
Poetisa

Solidão



Vejo as cores da tarde serem abafadas
Pela penumbra do horizonte sem fim,
Como memórias devoradas pelo tempo,
De sonhos distantes que se perdem no nada,
Do imenso vazio que transborda em mim.

Percebo que sou incógnita perdida
Em um mundo ilusório de versos e melodias
Incompreensíveis na consonância da vida,
Reunindo fragmentos de ilusões,
De esperanças muitas, já vazias...

Sinto a solidão arder em meus olhos,
Percebo que meu coração é frio
E, junto às lágrimas, sinto um leve arrepio,
Que espalha o pó em minhas mãos,
De sentimentos tantas vezes partidos,
De um mundo iludido que se faz a desilusão.

Ana Rita Dantas
Poetisa

Todo poeta



Todos os poetas falam das mesmas coisas;
Todos eles têm as mesmas e outras vidas...
Todos escrevem por amor,
Todo amor na sua escrita.

Todo poeta nasce calando
O que no peito está sempre gritando.
Ele pode ser engraçado, pode ser irritado...
Pode ser tristonho e, mesmo assim, esbanjar sorrisos...
Seus versos serão sempre seus lírios.

Todo poeta é incompreendido, muitas vezes por ele mesmo.
Todo poeta jura ter um eu lírico e as palavras belas de amor
E tristes de amor e esperançosas de amor na verdade não são de amor...
E o que você ler aqui ou ali em outro poema são rimas e simetrias
De um fingidor que morre fingindo toda sua vida
Que nunca morreu de amor.
Todo poeta já morreu...
Todo poeta, menos eu.

Danila Sousa
Poetisa

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Liberdade


O que tens tu,
Liberdade,
Para que tantos te acreditem?

O que apregoas tu,
Liberdade,
Para que tantos dêem
Suas vidas em teu nome?

Que beleza escondes tu,
Liberdade,
Para que tantos
Te queiram conquistar?

E que poder realmente
Se acha em ti,
Para que outros
Te queiram derrubar?

Não sei que tesouro honroso
Descobriste em mim,
Liberdade,
Para nas linhas de meu coração
Constituíres residência…

Que importância, afinal, tens tu?
Que mistério se esconde
Em cada letra de teu
Glorioso nome?

Que feitiço murmuras
Para que os punhos se cerrem,
Para que o sangue ferva
E para que a determinação
Suplante a inércia?

Ó Senhora das batalhas,
Ó Mãe dos Ideais,
De que Reino és Rainha?

Podes ser impulso desenfreado,
Cegueira efémera,
Vitória alcançada
Ou mesmo paz perdida,
Mas, sem ti, nenhum Homem
Poderá realmente afirmar
Que possui vida...


Pedro Belo Clara
Poeta português

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Por amor à liberdade


Em nome da liberdade,
Que vás...

Uma lágrima na partida há de cair,
Mas um sorriso sincero há de ficar.
Porque tudo que vai, vai por um motivo,
E tudo que chega, por outro também.
Passarinho preso em gaiola canta tão triste
Que a gente não resiste e fica triste também.

Ana Cláudia Nóbrega
Poetisa

Guerra santa

Não empunho espadas de templário
Nem tampouco envergo o manto
Dos cruzados,
Não sou herói nem cavaleiro...
Apenas um homem
Arrastando sua fraqueza.
Minhas batalhas não rendem espólios
Ou submissão de servos
Ou conquistas de terra,
Escravos ou mulheres.
Sou apenas um fraco
Arrastando sua humanidade.
Nesta guerra-santa que todos travamos
Não há vitoriosos e nem derrotados.
A única glória é a sobrevivência!

Francisco Ferreira
Poeta

Prisioneiro


O prazer dos dias… o que é?
O vento da liberdade… como sopra?
A canção da vida vivida para além
Da idealização conseguida… como soa?
As memórias de uma época?
Ah, sim, as pequenas luzes
Que iluminam minha solidão…
Sentires? Loucuras? Paixões?
Ecoam em surdina nas paredes
Que me cerram num espaço…
Minha existência é esta,
A de ser algo entre correntes
E dias de contínua mudez…
E poucas são as gravuras
Que o entrelaçado das grades
Me permite observar, aqui,
Na quietude dos instantes
De um Tempo sem rosto, sem nome,
Sem Vida.

Pedro Belo Clara
Poeta português

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Caçada dos instantes

É um antigo sonho que se rematerializa
Em formas insanas e incoerentes
Uma tela que se repinta em cores diferentes
Nela dois sinistros pequenos círculos próximos
Me perseguem pelo quadro de imagem árida
Penso que são seus firmes olhos
Mas são os penetrantes olhos de uma águia
Ao despertar não consigo conter o motim que há no leito
Dos fragmentos que surgem no meu ócio
Como um fino som agudo no peito
Surgido aos poucos no fundo do silêncio
Os fragmentos são meus queridos amigos fantasmas
Testemunhas únicas do ouco nascedourode minhas palavras
Arautos de um cruel pôr-do-sol que invade
O crepúsculo evasivo e selvagem de antigas horas
Mas lembro que antigamente as tardes
Eram mais tranqüilas, quase mortas
Na caçada dos instantes
Reverberam inúteis certezes cínicas, incessantes
Vigiando tempos
Perscrutando previsões
Acossando momentos
Tocaiando as ocasiões
Tudo constantemente uma coisa na outra implica
Nada nasce do nada
E até o nada se recicla.

Marcio Rufino
Poeta

terça-feira, 10 de abril de 2012

Um poema por dia


Eu te escrevo um poema por dia, mas é segredo!
Eu te escrevo um poema todo dia na intenção de que minhas palavras te alcancem.
Não para que tenhas lembranças minhas,
Mas para que um sorriso te venha sem motivo
E uma borboleta pouse em teus cabelos...
Para que sintas o cheiro de capim santo - que deixa tudo tranquilo
Depois do banho da noite, antes de dormir.

Eu te escrevo um poema por dia para agradecer estar vivo
E pelo simples motivo de poder fechar os olhos e te ver.
Isso não me basta para as incuráveis horas de saudade,
Nem para as noites de desejos sem fim.
Mas me vale para escrever meus versos -
nos muros, nos livros velhos e em mim.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Contramão


Há verdades não negáveis
E sonhos que se perdem na vida
Em meio à máscaras afáveis
Que, à luz do sol, são dissolvidas.

Há sentidos incoerentes
Bem próximos, em mundos distantes,
Pessoas que convergem indiferentes
Laços que se desfazem, inconstantes.

Há quem lance palavras ao vento
E há aquele que em silêncio discorda
Momentos que se desfazem no tempo
Sentimentos que aos poucos acorda.

Há um ciclo constante e imprevisível
Caminhos que se encontram sem direção
E uma desigualdade incompatível
Movendo a vida na contramão.

Ana Rita Lira
Poetisa

Assim começamos


Senti teu olhar no meu penetrando
Senti teu desejo no meu se encontrando
Senti teus lábios meus lábios beijando
Senti tua língua me amordaçando
Senti o teu corpo no meu esquentando
Senti tuas mãos em mim se agarrando
Senti o teu fôlego no meu sufocando
Senti os teus pelos de leve roçando
Senti teu abraço no meu apertando
Senti que podia e ali começamos.

Robson Cordeiro
Poeta

Espera


Sob os arcos parabólicos o último resquício de dia
Ilumina-lhe o sobressalto da cara, espreita e pensa:
“Ela virá? Será que virá? Não virá?”
Sob os arcos, o peito traspassado arqueja
em dispnéia, vigia e espera:
“Ela demora! Como demora! Porque demora?”
Pergunta aos automóveis que voam: “Ela virá?”
Aos homens sem face, argúi: “Será que virá?”
Questiona mendigos, e restos e ratos, pivetes e colegiais:
“Não virá? Não virá?”
O vento poluído de fim da tarde,
fim de feira, expediente , vida
amplifica pela praça: “Não virá, não virá, não virá...”
A estação iluminada de águas dançantes,
passantes, pedestres, transeuntes carregando bolsas,
pacotes, embrulhos, quem sabe: agrados para ela?
Nas batidas do coração: “Não virá, não virá, não vira...”
Na buzina do ônibus, no apito do trem,
na revoada dos pombos, na frenagem do carro;
em uníssono crocitam pensamentos,
mortificam o solitário nas sombras do viaduto,
que o crepúsculo grafita sobre a cidade:
“Não virá, não virá, não virá...”

Francisco Ferreira
Poeta

Silêncio


Há sempre noites que me batem um vazio
Falta algo dentro de mim
Algo muito grande, muito importante.
E eu não sei o que...
Não sei o que pensar o que dizer
E o silêncio, ele também não me basta...
Ele também não me cala.
Outras noites me sinto pouca, pequena pra tanta coisa
Sou nada do tamanho do que sinto.
E nesse momento todas as vozes gritam,
Gritam e sussurram entre o moral e o absurdo...
Mas mesmo assim eu sei que há um consenso
Rompe-se a barreira do perceptível tornando ao silencio.

Danila Sousa
Poetisa

Aproximação casual


Caminhada reta de minutos,
Segundos de vida interferida
Por passos na estrada.
Cruzo pessoas que paradas
Conversam, parados apesar da minha
Interferência, calado por eles passei.
Outros caminham em direção contraria,
Que às vezes em segundos, passo a fazer
Parte dessa vida e caminhada que não conheço.
Vidas distantes aproximadas
Pelo movimento constante.
Em repouso ou movimento
O que muda é o referencial.

Ronne Grey
Poeta

IV


Os olhos choram o dia que não nasceu…
Poderá algo assim se entregar
À Dor por aquilo que não viveu?
O Tempo não cessa o seu contar
E em quem habilmente o teceu
Cresce o temor de seu furtar.
Não houve luz que por Prometeu
Cintilasse após seu amargo amar
E os olhos choram o dia que não nasceu.

Pedro Belo Clara
Poeta

sábado, 7 de abril de 2012

Eu quero é ser poeta!


Eu quero é ser poeta
Porque o meu alento
Está nas palavras, no verso rimado

Eu quero é ser poeta
E escutar muito atento
O que diz o coração, como um chamado

Eu quero é ser poeta
E falar de sentimento
Pra tocar na alma até o mais amargurado

Eu quero é ser poeta
Soltar minhas rimas ao vento
Um Quixote da poesia, ridículo, ultrapassado

Porque eu quero é ser poeta
Não me interessa o julgamento
Ser aplaudido, odiado ou amado

Eu quero é ser poeta!

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Morte do Operário

Seria um bom dia para se morrer...
Não fosse hoje quarta-feira,
Não fosse fevereiro, verão
Eu não tivesse levantado
E desdenhando a madrugada,
Vergado sob o peso da fábrica
Os olhos vermelhos de álcool
E noite mal dormida
Não tivesse ido trabalhar.
Não fosse hoje quarta-feira
Não fosse meados de mês
E entressafra de salário e as contas
Água, luz, condomínio, clube
E o dono do boteco de cara fechada,
Má vontade em servir a pinga,
Não tivesse me atrasado
E perdido o ônibus, o trem, o avião.
Não fosse hoje quarta-feira
Não fosse o patrão zangado
O relógio intermitente e delator,
Os olhos inquisidores dos colegas,
O ponto cortado, a ameaça de desemprego,
A mulher exigente e envelhecida
Os filhos, a geladeira vazia
Não tivesse avançado o sinal.
Não fosse hoje quarta-feira,
Fevereiro, verão, meados de mês
Não fosse...
Não fosse hoje quarta-feira...

Francisco Ferreira
Poeta

Carnívora



Nada de voltar ao passado,
É que ele não existiu, ou ainda estamos paradas no tempo
Como se o mundo já tivesse acabado e ninguém percebeu.
Eu vou ficar pra sempre no mesmo lugar onde tudo começou,
Onde nada começou, onde eu te amei e você não disse nada.
Nada que eu pudesse entender como verdade.
Você só confundiu minha cabeça e meu coração.
Destruiu minha vida,
Destruiu meu futuro e meu passado,
Destruiu meu coração e eu não posso mais amar a ninguém,
Porque eu sou apenas um porta-retratos com sua imagem,
Um objeto fora de moda,
Alguém que não sabe se está viva ou morta...
Vegetativa...
Seria mais feliz como uma planta em sua casa,
Se contentando com um pouco do seu ar e água...
Carnívora.

Danila Sousa
Poetisa

Pra dizer que valeu


Às vezes bate a vontade de dobrar na Dezesseis,
Pegar o bonde das três e seguir um rumo incerto.
Visitar outros desertos mais distantes que os meus,
Buscar outros sorrisos pra esquecer-me dos teus.
Vislumbrar outros olhares, conhecer outros lugares,
Para, enfim, poder dizer que valeu,
Cada passo que dei,
Cada flor que plantei,
Cada sonho de paz.

Ana Cláudia Nóbrega
Poetisa

Choro


Dois rios deslizando rumo ao sul
Com a mais cristalina, pura,
Salgada e morna água
É o grito estridente da dor,
É a tristeza se exibindo com magnificência,
É um barulho ensurdecedor...
No âmago são as lágrimas lavando a alma.

Sousa Neto
Poeta