segunda-feira, 9 de abril de 2012

Espera


Sob os arcos parabólicos o último resquício de dia
Ilumina-lhe o sobressalto da cara, espreita e pensa:
“Ela virá? Será que virá? Não virá?”
Sob os arcos, o peito traspassado arqueja
em dispnéia, vigia e espera:
“Ela demora! Como demora! Porque demora?”
Pergunta aos automóveis que voam: “Ela virá?”
Aos homens sem face, argúi: “Será que virá?”
Questiona mendigos, e restos e ratos, pivetes e colegiais:
“Não virá? Não virá?”
O vento poluído de fim da tarde,
fim de feira, expediente , vida
amplifica pela praça: “Não virá, não virá, não virá...”
A estação iluminada de águas dançantes,
passantes, pedestres, transeuntes carregando bolsas,
pacotes, embrulhos, quem sabe: agrados para ela?
Nas batidas do coração: “Não virá, não virá, não vira...”
Na buzina do ônibus, no apito do trem,
na revoada dos pombos, na frenagem do carro;
em uníssono crocitam pensamentos,
mortificam o solitário nas sombras do viaduto,
que o crepúsculo grafita sobre a cidade:
“Não virá, não virá, não virá...”

Francisco Ferreira
Poeta

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