domingo, 31 de julho de 2011

Cupins

E os cupins se esbaldavam
Pelos ouvidos abriam caminhos
Marchando em filas com lentos passinhos
Aos poucos me esfarelavam

Foram me caindo as cascas
Corroídas, apodrecidas
Intragáveis, poluídas
De virtudes escassas

Quando todas tombaram
Restou o que sou
Um abismo que o diabo abençoou
Onde genocidas germinam

Lá se ouvia um gargalhar
Os cupins envenenados morriam
Agonizando sofriam
A risada tomava fôlego engolindo o ar


Já que só querem imagem
Nego-lhes o perdão
Piso no pescoço
Escarro no coração
Mastigo o cerebelo
Enveneno-os feito cupins
Que jazem ao chão

Celebre o amor uma vez e ame o resto dos dias




As sacolas de papel e seus brasões
são tanino em meu coração
seco, murcho, insosso,
perdeu a calma
trinta, quarenta, cinquenta
metade se foi e a capacidade de amar

Não precisamos esperar!
desgasta e esfria o sangue
fujamos das filas
sua boca é suficiente para nos convencer
aos outros ela pode mentir
não me importo, gosto

Ainda sinto o gosto do bolo de casamento
nem champagne nem vinho
hoje quero seus fluídos
dê-me o mais doce se quiser ser amada
não se empenhe e morra seca:
escolha ser feliz.

Aníbal Mascarenhas
Poeta


Sonhar

Sonhar?
Sonhar é viver,
É cantar...

Sonhar?
Sonhar é ir além,
É buscar...

É caminhar sem rumo
Com a certeza de chegar,
É voar como águia
E o infinito alcançar...

É deixar-se levar pelo desejo,
Pelo sonho, pelo tempo.
Viajar...

E um dia, aqui ou além,
Quando tudo estiver consumado,
Não olhar para trás,
Não chorar o passado,
Pois estarás além
Do caminho traçado.

Aridiana Dantas
Poetisa


Esse teu olhar

Há um que não sei de que nesse teu olhar...
Um que de saudade
Um que de liberdade
Um certo que difícil de explicar
Há alguma coisa nesse teu olhar...
Alguma coisa que prende
Alguma coisa que rende
Alguma coisa que pede pra te amar
Há um certo brilho nesse teu olhar...
Um brilho que me ofusca
Que o meu olhar degusta
Um brilho que faz até a lua invejar
Há alguma coisa nesse teu olhar
Alguma coisa que fala
E que ao mesmo tempo se cala
Há segredos que quero desvendar...
Soa versos desse seu olhar...
Versos que acaricia
E que ao mesmo tempo alivia,
Que o meu olhar insiste em escutar
Há qualquer coisa nesse teu olhar...
Qualquer coisa que afaga...
Qualquer coisa que abraça...
Ah meu amor, como quero esse teu olhar...

Karla Jane
Poetisa


Repetiu a mesma rotina

Aqui alguém disse:
“Outrora já houve cinema”.
Então o tempo passou.
E triste, anos depois, falou:
“Ai que pena!”

Aqui alguém disse:
“antigamente havia paz”.
Mas cruelmente foram-se os anos.
“se havia, onde estás?”

Então se repetiu a mesma rotina.
Foi ai que perguntaram:
“teve alguma idéia brilhante?”
A resposta ficou num olhar insinuante.

As flores são mesmo insensatas.
O problema vem de tudo que respira.
Colhidas ferozmente por mãos ingratas.
Mesmo depois de morta, ela conspira!

Aí alguém disse:
“Ai que pena!”
Então o tempo passou.
Ainda bem que teve o cinema.

Bruno Coriolano
Poeta


Poemas publicados no quadro Novos Poetas, GAZETA DO OESTE - www.gazetadooeste.com.br - caderno Expressão deste domingo, 31 de julho

sábado, 30 de julho de 2011

O último poema

















Experimento outra vez essa sensação
Um sentimento sem sentido
Que me faz sentir-me 
um ser pequeno, ridículo.

Poeta tolo,
Perdido em devaneios.
Coração bobo,
Enciumado por desejos alheios.

Incontrolado.

Involuntário sentir,
Que faz o poeta sentir-se menor.
Dominou os versos, as palavras, e algumas ficções,
Mas se entrega facilmente e se deixa manipular por seus desejos e emoções.

Pobre poeta fraco!

Trocaria o coração por um frasco de ousadia.
Trocaria a emoção por um instante só de paz.
Nem que lhe fugissem as palavras
E de sua poesia, só restasse,
Esse último poema
e nada mais. 

Olhos de amargura
















Outra vez os mesmos olhos
Que outrora me fitavam com a falsa ternura
Só experimentada pelos cegos da paixão

Aqueles olhos de amargura
Fitando-me incoerentes no papel de uma fotografia
Pedaços de uma vida que fiz questão de esquecer

Os olhos traiçoeiros de um bem
Que nunca a ninguém soube querer
E na doçura mascarada daquele olhar
Há um pouco de fel destinado
A cada alma que com eles se encantar.

O pedreiro da alma




Para a amiga e poetisa Ellen Dias


A vida me joga sobre esta noite
Com seus braços gigantes
E sua garganta metálica;
Me prende todo o corpo,
Sempre aprisionado
Pelo vazio efêmero
Deste nada que se dilui
Dentro do peito dilacerado na estrada
De meus pensamentos, de meus tormentos...
Agora a noite me surpreende
Sempre atenta em desvairados lençóis!

Ó manhã de meus infernos astrais!
Ó minha solidão, como qualquer um!
Estirada sobre meus braços magros,
Longe de meus pensamentos
Como frutas apodrecendo
Nas tardes desta cidade...
Vem, aurora outonal dos que partiram
E deixaram, somente nas lembranças,
Suas manchas mesquinhas e pequenas,
Como outro qualquer,
Como uma folha, uma solidão, uma angústia!
Ó manhã, ó solidão presente nas coisas,
Dentro da alma do homem,
Impregnada em sua voz!
Posta sobre nossa pele
Invadindo a carne, ser apodrecendo
Em estradas longas e disformes...

Venho de outras eras,
Venho de outros destinos,
Mapeados no meu rosto
Como um itinerário envelhecido,
Como uma peregrinação a um lugar perdido
Na memória infame que aniquilamos todos os dias.

Nem sou nem posso assassinar
Aquilo que está impregnado
Nessas horas destituídas e alentadas
Pelo que somente me vem, estas memórias.

Vivo como qualquer outro.
Meu ser está em toda parte.
Nesta noite feroz
Apenas a lembrança de um nada
Que me aparece como uma morte
Me acenando de seu profundo abismo
E me indicando aquele caminho
Nunca percorrido por minhas pernas cansadas
De ser apenas pernas, coisa nenhuma...

Vivo como qualquer outro...
Eterna solidão dos olhos,
Cansado de estar no mesmo lugar,
Fixado sobre a pedra da memória
Como uma colina romana,
De estar entre livros,
Prostrado sobre lençóis,
Com papéis pelo corpo...
A alma à revelia das horas.

Vivo como qualquer outro,
Sempre esperando aquele último acenar
Da morte que me leva diariamente
À casa paternal de meus ancestrais...
Estou farto de mim como um homem maduro;
Estou farto dessa discórdia;
Estou farto de ser-me apenas tédio
E manhã e nada mais senão aquele sinal,
Farol dentro da alma-vida,
Sinalizando a chegada ao porto das ilusões...

A vida me joga sobre esta noite
E eu bóio na retina das esquecidas névoas
De uma manhã qualquer...
Farto de mim, farto de ser-me só...
Estou preso a esta vida como um abscesso,
Como um tumor, uma doença incurável.
Estou preso à vida como uma cola ao papel;
Longe das minhas precipitações...
Estou preso à vida como quem desenha –
Na sombra de seu passado –
Uma fronte perdida...

Estou preso de mim e daqui (dentro)
Jamais me retirarei...
Fincado na alma, pote quebrado
Na fonte do rio-ser...
Meu inferno é saber-me estranho
Num mundo de estranhos e de somente fel.
Meu inferno é saber-me abandonado,
Crucificado como um salvador
Preso ao madeiro, um homem boiando
Sobre o sangue que corria
A pouco das veias, agora vazias...

Sim, meu inferno é estar-me aqui,
Sempre sentado diante da vida,
De cócoras para o nada,
De costas para aquilo que me consome
E que me assemelha a qualquer um,
A qualquer coisa, menos um divino
Cismar daquilo que nunca fui ou serei.
Sim, meu inferno é o de estar-me;
O de encontrar-me no amanhã,
No indesejável momento de dizer
A última palavra à ira de si.


Ilustração: Hausmann - Movimento Dadaísta

sexta-feira, 29 de julho de 2011

O preço da paz


Escondido na trincheira
Com a morte anunciada
Pela honra da bandeira
Pela paz tão desejada

Uma voz que me ordena
Sons de tiros, sons de ais!
Uma bala me condena
E já nem a sinto mais

Perco a batalha
A vida se encerra
Ao som da navalha
A morte me observa

Tudo é escuridão
Os tiros não ouço mais
Cala-se meu coração
Finalmente a paz.

Perito


A crueldade humana é como necrotério
Em cada gaveta está um sentimento 'morrido',
por fome de amor e sede de humildade matado,
por ausência do olhar solidário ao reflexo desconhecido.

Por que campos o homem terá andado
para contrair tão infestioso vírus?
Cada dia mais humanos são desumanizados
Cada dia, do calor de um sorriso franco, destituídos.

Não se sabe para onde vão os 'corpos' liberados
para dar lugar aos novos 'empodrecidos'.
Por trás de cada assassinato ou suicído,
Corações perturbados, roubados da paz do paraíso.

Agora estão separadamente em formol convervados
os sonhos, a tolerância e o altruísmo.
Neste mundo não há condição mais fétida e sofrível
Do que ser de cadáveres ambulantes, um perito.

S.


A noite, és rainha!
Acordada, és meu carrasco.
O meu café te vicia,
Ou será que me devoras?

Insiste quando eu choro,
Quando imploro que vá embora.
Sua presença minha vida estende,
Meu copo de bebida barata se demora.

És minha constante inconsciente,
A tua onipresença me apavora.
Os teus braços me prendem
Ou sou eu quem te aprisiono?

Diga-me se as sete letras que te conceitua
Um dia me deixarão em paz...
Se tu é o que ficas quando alguém se vai,
O que queres dizer com Nunca mais?!

P.S.: Alguém arrisca dizer do que/quem estou falando?

A-mar


Tenho pressa de contar nuvens no céu de março
Em pleno azul de dezembro.
Pressa de ser nuvem antes de a chuva cair.

Tenho pressa de cantarolar coisa alguma
De ser o canto das cigarras
Pressa de falar o que o silêncio me faz ouvir.

Tenho pressa de não me apressar
De não deixar a cama e o lençol
Pressa de dormir e acordar o sol

Tenho pressa de perder de vista o barco navegar.
De navegar mares sem ondas
Pressa de a-mar.

Perdão


Eu te peço perdão
Que seja como briga de irmão
Que logo se esquece
Daquilo que o aborrece

Eu faço a confissão
Do pecado vão
Da dor que me estremece
E a minha face enrubesce

Que a minha pena seja branda
Porque o meu coração anda
Sentindo-se culpado demais

Que a minha pena seja pesada
Para que a carne seja castigada
E não erre nunca mais

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Apostasia

Pescoço desprotegido
Estrada perigosa
Me quedo perdido
Na epiderme rosa
Nariz afilado
Frescor exalante
Rosto lapidado
Olhar flamejante
Lábios inquietos
Parecem pedir
Impiedosos gestos
Fazendo-a sentir

Mãos indecentes
Que ganham espaço

Cadenciadamente
Marcando compasso
Seco crepitar
De roupas rasgadas
Cama a suportar
Felizes rajadas
Respiração pesada
Poros abertos
Porta fechada
Corpos descobertos
Gozo redentor
Coroamento que extasia
Imensurável torpor
Apostasia.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Interior




O Poeta
Que morre em mim,
Traz a marca do silêncio
Que encontro em ti.
Ele caminha, disfarçadamente,
Entre os sentidos
Absurdos
Do seu coração.
Mas na luta diária de meu lado
Esquerdo, ele se perde
Entre seu olhar no meu olhar.
Olhar-te, porém, do alto de meu
Disfarce,
Me constrange e me abala
Ou me perfura a carne,
Meu sangue
Banhando
De morte
As calçadas
Alheias;
Os olhares alheios;
Os homens alheios;
As mulheres alheias;
As moças alheias...

O Poeta que mora em mim
Também se ofende e se agrada.
É ser, como as aves entre os seres.
E eu, que me mapeio
O coração,
Ando perdido,
Canto a canto,
Em teus lençóis;
Em teus espantos!

Esse meu “Eu Poeta”
Que sangra, distante,
Outros meus amigos;
Esse meu “Eu Poeta”
Feito de dor e carne e vestígios;
Esse meu “Eu Poeta”
Que vê além
De meus ouvires,
Me cobre de desafios e
Pensares...
O pensar ser além
Do homem-Carne;
O pensar ser além
Do homem-Método;
O pensar ser além
Do homem-Máquina,
Me funde em pensamentos;
Me algema em faces
Estranhas
E vivas,
Feito água
No céu
De minha boca.
Mas as palavras
Me atiram fora
O corpo nu;
O corpo do Homem-Natural
Que me obriga,
Do desperdício
Que me custou
Rasgar esse meu tédio
Sobre a cidade,
À implosão de outros
Versos;
De outros estranhos versos
Escritos na sombra daquela
Imagem.


Ilustração: Movimento Dadaísta

A Mulher-Pássaro




Sou poeta...
Meu corpo
Sem destino
É tudo o que,
Suponho,
Tenho em mim.

O ver tão
Sem prumo
Daquilo que
Constituiu-se
O irreparável.

No céu
De tua boca –
Já me dizia
O ditado –
Um homem
Pendurou
Uma gaiola.
Daí que tua voz
É um constante
Pássaro a cantar!


Ilustração: Juan Miró

Solúvel




Desmanchar
As palavras
Em seus concretos
De somas e de faltas
E suas línguas meigas
Em meu coração
Lambendo receios,
É ir e levar comigo
O coração que nunca tive
A desconexos desejos.


Ilustração: Theo van Doesburg (and Kurt Schwitters?). Kleine Dada Soirée [programme]. Dezembro 1922. Lithography.

Desapego




Pelo chão que
Se resvala
A recatada
Síntese que
Me guia,
Eu, mudo de mim,
Planejo fuga
E perdição.
Eu, surdo de mim,
Alieno noites
E tardes
E manhãs
E invernos
E verões
E outras
Coisas que
Se vão pelo
Seco da manhã.

Necessidade




Eu não preciso de utopias;
De sangue de inocentes
Sobre meus muros e começos,
Nem inconcebíveis ações.

Eu não preciso da fúria dos dias,
Os seus enjoos, como ovelhas...
Os seus embargos,
Como barcos ao luar!

Eu não preciso do preciso,
Nem necessito do que me necessita;
Do que tem duas antenas e uma forma
Concreta de agir;
Do homem além da imagem,
Da metáfora de teus olhos.

domingo, 24 de julho de 2011

Do meu lado de fora




Deve ser estranho
me olhar do lado de fora
assim quieta,
com olhos tristes e voz minguada

expressão de falta
amarelo sorriso
silêncio cortante
ares de solidão

essa falta de luz
que ronda meu rosto
não mostra aos outros
o meu prateado

mas não é verdade
o que o rosto inventa
sou mais que retalhos
é só ilusão

o meu sorriso
que o rosto esconde
está bem guardado
na minha imensidão

a luz dos meus olhos
espera o instante
o tempo perfeito
para irromper

a minha alegria
por dentro é verdinha
é bem florescida
dentro do meu ser.

Ângela Rezende
Poetisa


Espetáculo no céu

Do banco do ônibus
Que corre apressado
Os olhos ainda de sono pesados
A brisa suave que rela o rosto
O verde flamejante da mata virgem
Natureza tão bela
Perfeita em seu alegre matiz

No horizonte distante
Uma nuance laranja reluz,
Robustece e colore todo o céu
O sol eclode paulatinamente,
De propósito,
Para mostrar toda sua grandiosidade
Descobrindo-se de seu véu
E mostra-se por completo
Num espetáculo arrebatador
E cheio de pompa...
Aquecendo o dia
E iluminando a vida...

Lázaro Fabrício
Poeta


Poemas publicados no quadro Novos Poetas, GAZETA DO OESTE - www.gazetadooeste.com.br - caderno Expressão deste domingo, 24 de julho

Foto: Firat Leuphrates


Instintos




O Proibido me veio em forma de verso
Como um Poeta a cortejar-me a vida insana e promíscua
Me veio n’um olhar displicente
Sem intenção primeira duvidosa.
O Proibido me veio como uma necessidade
Pronta para saciar-me as frustrações comum dos impulsivos
Me veio contraditoriamente para
Salvar-me e atirar-me no desvio de regras habitual.
O Proibido me veio ingênuo e traiçoeiro
Me fascinando doce e gentilmente
Para em seu infinito nos corromper recíprocos.
O Proibido me veio alheio
Entregue às suas próprias fraquezas emocionais
Me veio vulnerável
Submisso à minha luxúria.
O Proibido me veio Conflitante
Me pondo em jogo aquilo que fui, sou ou o que nada serei.
Me veio indomável
Deixando insaciáveis meus labirintos.
O Proibido me veio, simplesmente
E permanece, senhor de mim,
Reinando soberano meus instintos naturais.

Rayane Medeiros
Poetisa


Poema publicado no quadro Novos Poetas, GAZETA DO OESTE - www.gazetadooeste.com.br - caderno Expressão deste domingo, 24 de julho

Para sempre




O sol se escondeu.
Deixou o dia sem cor
O vento suave soprava baixinho
A música do nosso amor...
As lembranças traziam de volta
Os momentos que um dia eu vivi,
Os sorrisos alegres e tristes
De um caminho que eu percorri...
A saudade já não mais doía,
As lágrimas não eram de dor;
Nessa tarde sem sol e sem chuva
Onde o vento me lembra você,
Fecho os olhos e sinto bem fundo
O que talvez nem eu mesma soubesse
Que a nossa história para sempre seria
Mesmo que o tempo passasse
E longe um do outro a gente estivesse
Existiria na nossa alma
O que uniu nosso ser para sempre.

Rosenilda Praxedes
Poetisa


Ilustração: Foto de Rafael Soledad Matos

Mesa literária




escuto a fala dos poetas laureados
(uma britânica e um brasileiro)
me incomoda a desenvoltura de ambos

compreendo inutilmente a distância entre nós
poeta sem láurea

intransponíveis barreiras culturais
em versos banais

enquanto os laureados proclamam erudição
em versos de impossível aproximação


Flávio Machado
Poeta

Ditado popular




Em terra sem Drummond
Quem tem um Oswald
É rei

Flávio Machado
Poeta

sábado, 23 de julho de 2011

A vida como ela é

O corpo no asfalto
A buzina retumbante
O choro, em coro, alto
Os gemidos ululantes

O velório sem gente
Os dias sem comida
O que vem pela frente
Faz da filha corrompida



Cadáveres trazidos pela maré
Estupros, assaltos
Mãos ao alto
A vida como ela é

Possessão



A poesia pegou-me nos braços
Sentou-me, me concentrou
Emaranhou-me em seus laços
Escreveu-se, e se fartou

Um ente no papel



Ao poeta Nauro Machado

Um ente no papel –
Coisa nenhuma –
Forma do ser
Igual a tudo e nada,
Bóia no ar,
Desfaz-se – pluma...
Somente
Coisa diversa,
Serenada.

Um ente no papel –
Coisa nenhuma –
Forma de alguma
Coisa formada,
Vou pelos caminhos
Como quem procura
A luz na escura estrada.


Ilustração: Foto do poeta Nauro Machado

Mau humor


Mau humor, pode partir
Não te quero aqui
Não farás falta, posso garantir
Procure outro para ti

Mau humor, meu bem
Eu não ficarei triste
Longe de ti, que alegria não tem
A solidão não existe

Mau humor, já vai tarde
O meu sorriso a sua presença encarde
Tua ausência me dará paz

Mau humor, leva contigo
O meu coração antigo
Porque ele não me serve mais

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Mulheres do beco




Já passaram todas as mulheres

as mais lindas

as mais cheirosas

as mais belas de espírito

como as mais desmanteladas

feias e fedorentas

O beco é minha vida

hora de desespero

momentos de alegria

Satisfação e emoção.

Gustavo Luz
Poeta