segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Outra face


Vi teu rosto hoje em uma imagem.
Fotografias perdidas
na tela de um computador.

Vi teu rosto em outra face,
Desconhecendo o rosto
de quem um dia
chamei de amor.

Antes um rosto meu,
Perfeito e particular,
Familiar e acolhedor.

Agora só mais um rosto,
Desconhecido e sem valor.


Ellen Dias
Poetisa

Versos solares


Em mim, o poema não nasce,
Ele rompe
Feito sol:
Com luz intensa,
A ponto de cegar
Quem pensa
Que pode viver sem.
Mesmo que se ponha
Uma vez que suponha
Que te leva uma parte quando vai...
Enquanto você dorme e sonha,
O mundo gira,
E ele volta
E traz de volta
A força, o calor e a paz!


Camila Paula
Poetisa

II


Um ócio, uma inércia, um vazio…
O que mais assim me assomará –
Sou um calor vencido pelo frio –,
Quem mais assim me tomará?

Demora-se o olhar pelo traçado
Que define o eterno indefinível,
Sente o exíguo coração furtado
A dor do todo que é impossível,

Quebram-se confortos, as ideias
Então cuidadosamente esculpidas,
Revelam-se as virtudes nas areias
De todas as direcções perdidas.

Assim vai este simulacro sombrio
Imergindo na imensidão nocturna,
Percorrendo as léguas do desvario
De ser corpo morto, mas sem urna.


Pedo Belo Clara
Poeta português

Antes só



Antes só que ao lado dos insensíveis,
destes olhos tristes que não vêem beleza alguma.
Destes versos mortos, destes amores tortos,
aspirantes à vidas vazias.
Antes à solidão, que aos sorrisos fáceis,
que às promessas frágeis,
cartões-visita das falsas e inebriantes companhias.
Antes só que a mercê dos descrentes,
dos que não vêem um palmo à frente,
das próprias mãos e pés.
Dos que estão sempre rodeados de amigos,
que possuem companhia para os dias festivos,
mas que sentem-se muito mais vazios que muitos solitários por aí.

Ana Cláudia Nóbrega Alencar
Poetisa

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Angústia


Não choro um rio
Eu choro mares,
Como um náufrago de um navio,
Afogo os males!

E nessa angústia eu nado
(contra a correnteza)
Deixando a maré expelir
Toda a tristeza...

Caindo no oceano de lágrimas
Vou ao lugar mais profundo
Mas o empuxo-consciência
Me devolve ao meu mundo.


Ana Rita Lira
Poetisa

Ausência


Agora invade o meu peito a solidão
Cresceu como Eva daninha no meu coração
Da dor nascida na tua partida chamada saudade
Te fostes, sozinho fiquei, cruel realidade.

As horas monótonas não querem passar
Se é dia, é triste e longo parece não acabar.
Se é noite, é comprida uma eternidade.
Suplico aos anjos para trazerem a claridade.

Neste dilema cruel persisto a sonhar
A dor da ausência vem me sufocar,
Estrelas brilhantes, no céu teimam em deixar
Centelhas de esperanças, ainda hás de voltar.

Preenche minhas noites e dias
Não me deixes sucumbir assim
Na dor da saudade transformada em solidão sem fim.

Não me deixes chorar mais
Alivia a dor do meu peito
Enxuga-me as lágrimas e vivamos em paz.


Chumbo Pinheiro
Poeta

Felicidade



Vem em passos tão suaves
Que não escuto.
Por isto, não sei de onde vem,
Mas eu sinto
Seu pisar como nuvem.

As coisas ao redor ficam mais bonitas...
Os dias, as horas, a vontade de viver...
A rosa se refaz com pétalas viçosas
E as pessoas param nas ruas
Só pra ver a mudança de casa, de gente e de amor.
Um amor por dentro, que é precioso.
O amor que está guardado e aguarda
O olhar delicado que cuide
E que não queira tirá-lo de mim.

Eis a felicidade de amar a si.


Camila Paula
Poetisa

sábado, 18 de fevereiro de 2012

(Per)Verso

Faz-se cada verso da agonia
Que sai do coração do poeta
Como um parto, lancinante

Fez-se aos poucos a poesia
Pequena, imperfeita, incompleta
Garimpada como diamante


Vão embora os fantasmas
Vão agora é o verso
Vão, vazio, deserto
Mas como posso me esquivar da poesia?

Apronte o verso
Aponte o lápis
A ponte se faz
Entre o que é real e o que é fantasia


Haja o verso! - e ele se fez
E se fez outro, e mais outro!
Desdobrou-se em sentidos
Em perder-se de significados
Em desprender-se, liberto

Expôs minha carne outra vez
Mostrou minhas vontades
Meus sentimentos retidos
Como me esconder da poesia
Que escorre do meu peito aberto?

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

I


Oh, ecos do meu sentir,
Porque me sinto indigno?
Oh, chuva, porque cais
Assim, violenta e triste,
Tombando sobre tudo
O que de puro existe?
E porque me assoma
Esta infernal ardência,
Esta dolorosa exclusão?
Oh, coração, coração…
Deixaste-me sozinho
Às portas do Templo!
Oh, que frígido destino
O de cavaleiro tombado,
À beira estrada renegado,
Afogando-se nas lamas
De seu Tempo tresloucado…

Quão distantes de mim estão,
Ó afamadas horas de meus
Instantes de ilustre condição…


Pedro Belo Clara
Poeta português

A menina do laço azul

A menina do laço azul, que já não tinha nem o laço,
estava sempre a contar os passos, mas não sabia onde chegar.

Sentada na cadeira, uma feição traiçoeira, um coração a mais de mil.
Ele passava compassado, nem olhava para os lados,
e ela estava sempre ali.

A canção era tristeza,
A noite não resistia, até a lua se escondia,
só pra não vê-la triste assim.

Um amor desperdiçado, um sentimento inacabado, um sofrimento sem fim.


Ana Cláudia Nóbrega
Poetisa


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Na casa do ser



Quanta solidão!
Como pode entrar sem pedir licença
Tapar os olhos,
E impedir de enxergar
E de sentir, na pele,
Os dourados raios de sol
De um belo dia?

Quanta! Quanta solidão!
Sobre os móveis - feito poeira -
Ela se assenta por toda parte
Da casa do ser,
Ou se dispersa pelo chão,
Os olhos sempre a encontrarão.


Sousa Neto
Poeta

Solitude

Sou como um sino
Dourado e a badalar
Em tarde risonha de missa
Com sua contente solidão.

Feito o silêncio a espionar
Me sobram vozes prudentes,
Umedecidas de última hora
Por uma língua de hemácias secas.

Pareço uma flor
A perder suas pétalas
Para o insinuante outono,
Vívida de ternura incompreensível.

E como um crucifixo
Agarrado ao pescoço
Em mansa simbologia, minhas garras
Se prendem em próprio peito.


Lidiane Blanchett
Poetisa

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Só você me deixa assim



Amores perdidos, horas que se passam
tic tac do caminhar lento
uma dose, duas, três doses de veneno
e o gosto suave do lamento

No jogo poucos amam, "os desatentos"
tum tum do coração a pulsar
um, dois, três contratempos
e o cheiro do sexo a pairar

Decisões confusas, olhares entreabertos
lágrimas difusas permeiam saudades tuas
lembranças de abraços, beijos perpétuos
uma, duas, três fotos sujas
e a certeza de um passado incerto


Diego Anderson
Poeta

Rabiscos Tolos



São rabiscos, apenas rabiscos
Tolos e insensatos,
Não vos preocupeis com
Vossas interpretações.

Onde há flores há desamores,
Pois elas morrem, são esquecidas
E nenhuma lágrima se ver caída.

Não joguem flores na minha sepultura,
Joguem terra, uma garrafa
De vinho e esqueçam meu ser.


Ronne Grey
Poeta

Essência



O que eu tenho de melhor não acaba quando eu dou.
Tenho sonhos, tenho fé e tenho amor.
Minha fonte de amor é inesgotável,
Porque sou do amor.
E isso é o que importa!
Meu sorriso é sincero,
Meu olhar é terno
E minha ciência utópica, eu não detenho!
Porque é quando mais me dou
Que é quando eu mais me tenho!


Camila Paula
Poetisa

Persistência



Ainda havia uma flor solitária no campo sombrio devastado
Pairava no ar um perfume
A esperança relutava insistente
Ao sono resistia teimoso
O homem magro e faminto abriu novamente os olhos
E se pôs outra vez de pé

Ainda brilhava uma estrela naquele céu obscuro
Havia frestas de luz na beleza que o breu escondia
E no peito daquele velho cansado
Embora adormecida se camuflasse
Aquela ferida ainda ardia,
O câncer continuou espalhado
Em sua voz de nostalgia.


Ellen Dias
Poetisa

Agonizante melancolia


Deixe que o silêncio dissipe
O que nenhuma palavra consola,
Incompreensão causa dor e rebeldia.

Pranto de melancolia
No canto de uma poesia
Que grita mudo:

Lágrimas inúteis,
Palavras tolas,
Esqueçam minha contradição.

Enterrem meu ser
Demente no buraco do esquecimento,
O que vivia era ilusão.


Ronne Grey
Poeta

Aquela mulher


Abres o olho...
Há tanto ao seu redor.
Já não sentes mais o gosto,
O amargo do mel.

Já não há cartas.
Nem rabiscos nos papéis...
Não há nas estradas
As marcas dos teus pés.

Não, não sinto nada,
Nem mesmo uma mágoa.
Sozinho, calado,
Como quem nada quer...

Espero na estrada,
Na sombra das arvores,
No sol ou na chuva,
Aquela mulher

Que de braços abertos -
Como eras, assim, -
Só eu sei como dói
Não te ter perto de mim.

Já não cabe mais nada;
Sou caixa fechada,
Baú jogado no tempo,
Em um buraco sem fim...


Thiago Rafael
Poeta

Amigo...



Tu és o sol dos meus dias,
A lua das minhas noites,
O frio nos dias quentes,
O calor nos dias frios,
A flor do meu jardim,
O sorriso que me alegra,
A companhia que me faz bem,
As mãos que me acarinham, quando a solidão me vem...
De uma coisa estou certa, que não sei viver sem ti, pois através de você, sinto a presença de Deus, aqui cuidando de mim.


Isa Oliveira
Poetisa