segunda-feira, 26 de março de 2012

Aqui, na vida


Em cima desse palco,
Iluminado por todos estes astros
Sem saber atuar,
Sem saber interpretar,
Tropecei, caí e me arranhei
E vi o sangue escorrer...
Então, vaiaram-me, aplaudiram-me!

Mas aqui, ainda na vida,
Sob a gritante luz solar do meio-dia,
Antes que as cortinas se encerrem,
Antes que tudo se apague,
Com a mais aguda voz
Hei de cantar! Hei de cantar!

Sousa Neto
Poeta

Mãos


As mãos quando se encontram
São como os lábios quando se beijam
Como os corpos quando se amam
A ponta dos dedos se sente o leve toque, o arrepio
E se acariciam como num longo beijo
E se deslizam como se fossem o corpo inteiro.
Entrelaçam-se como se fossem línguas
Encaixam-se como se fosse sexo.
Tocam a face no silêncio
O corpo e a alma
Fazendo-se a voz que cala
Falando sobre tudo que seja amor.

Danila Sousa
Poetisa

Cotidiano


Me levanto, encaro o espelho,
Percebo as marcas do tempo
Que urge, apressado, delicado
E dispo-me então.

Firmo os pés no chão,
Fito o caminho que os raios de
Sol iluminam e me jogo em mais
Um dia de incertezas.

Encho o pulmão de ar puro,
Suspiro mais esta manhã.
Respiro a vida, o medo, a contradição.

Um passo à frente, um segundo a menos,
Um desejo a mais e a mente adiante,
À espera do mundo lá fora
Quando a porta se abrir.

Janaine Martins
Poetisa

Não faz sentido


Não faz sentido reclamar da vida
Se você não tem disposição para viver.

Não faz sentido chorar uma perda
Se você mesmo a provocou.

Não faz sentido lamentar a inexistência de amigos
Se nenhuma amizade você conquistou.

Não faz sentido censurar a hipocrisia
Se a sua vida tem sido uma mentira.

Não faz sentido sua falta de solidariedade
Se somos todos irmãos e nascemos para servir.

Não faz sentido acusar alguém de egoísta
Se você também é incapaz de compartilhar.

Não faz sentido criticar atos de desamor
Se nem a você próprio é capaz de amar.

Enfim, não faz sentido desejar a morte
Se ter vida e consciência já justifica neste mundo estar.

Josselene Marques
Poetisa

III


Um ócio, uma inércia, um vazio…
O que mais assim me assomará –
Sou um calor vencido pelo frio –,
Quem mais assim me tomará?

Demora-se o olhar pelo traçado
Que define o eterno indefinível,
Sente o exíguo coração furtado
A dor do todo que é impossível,

Quebram-se confortos, as ideias
Então cuidadosamente esculpidas,
Revelam-se as virtudes nas areias
De todas as direcções perdidas.

Assim vai este simulacro sombrio
Imergindo na imensidão nocturna,
Percorrendo as léguas do desvario
De ser corpo morto, mas sem urna.

Pedro Belo Clara
Poeta

A imunidade dos sonhos

Sonhar é planear a realidade que almejamos.
Sonhar é ter a liberdade de transpor limites.
Sonhar é dar asas ao pensamento:
A forma mais módica de viajar no tempo e no espaço.
Sonhar é ter bem perto o que você ainda não conquistou
Ou só obteve parcialmente.
Sonhar é realçar cada momento do viver.
Sonhar é insistir e jamais desistir do que se deseja.
Afinal, em sendo imunes ao tempo,
Os sonhos jamais envelhecerão
E sempre haverá uma chance de concretizá-los.


Josselene Marques
Poetisa

segunda-feira, 19 de março de 2012

A Morte do Pescador


Jorge Jiménez era rude
Tinha a força do mar...
Dentro de suas entranhas
Havia muito a contar,
Somente Rita Jiménez
Sabia o decifrar.

Esta história se passa
Numa vila bem distante
E Mário Gerson, escritor,
Novelista irradiante,
Narra num livro sério
Fato emocionante.

Logo nas primeiras linhas
Tem o leitor um encontro
Com frases bem montadas,
Em oito vidas e um conto,
Sem falar do cachorro
De olhar tão afronto.

Rita Jiménez é mulher
Que traz em sua vida
Um pouco de cada fêmea
Que entre casa, cama e lida
Aprende a conviver
E em tudo é combalida.

Murilo e Marquito Jiménez
Naquela vila do mar
Amam duas mulheres
Sem se preocupar,
São as filhas de Frederico
Que atendem o assobiar.

E a vida vai cessar
Ou quem sabe mutilar
Uma família inteira,
Uma vila a pensar
Quando Jorge Jiménez
Nas dunas vai rolar.

Não chame João Bolina,
Um conselho eu lhe dou:
Se for para construir
Algo que guarde a dor,
Pois é possível que haja
Confussão, sim, senhor.

Leia o livro, meu amigo,
"A Morte do Pescador",
Escrito umas treze vezes,
Assim diz o seu autor,
E verá que a novela
Tem muito valor.

Termino este cordel
Dizendo que vida e morte
Andam de mãos dadas
E pra isso não há sorte...
Viva intensamente,
Use o passaporte.

Mané Beradeiro, 18 de março de 2012.
Do blog: http://www.franciscomartinsescritor.blogspot.com.br/

Urbe

A manhã nem terminou de desmontar a noite
E nervuras urbanas já correm apressadas.
A manhã nem terminou de dissolver as sombras
E ânsias urbanas já respiram nuvens de fuligem.
A manhã nem se despediu das últimas estrelas
E desesperanças urbanas já vão se engarrafando.
A manhã nem tem ainda a cor da laranja
E loucuras urbanas já vão se congestionando
Pela cidade,
Pela urbe,
Pelo ossergorp.

Alex Assunção Rebello
Poeta

Para minha esposa


Há de haver um toque
Dessas almas puras,
Tão expostas, contam segredos.
Entre medo e sussurros
Se confessam...
Nessa hora posta,
Os olhos brilham.
Num gaguejar nervoso,
Tudo se revela.
Em gestos tímidos,
Sai o sorriso.
Rindo assim tão lindo,
Quebra o silêncio.
Num olhar que finda,
A vontade aumenta.
Donde se comungam
Para mais um beijo.

Pacífico Medeiros
Poeta

Estrela


Os seus olhos de segredos noturnos
- gosto de pensá-los assim:
De segredos, os mais puros!
E noturnos por, talvez,
trazer o brilho que arde no escuro,
Do meu corpo em insensatez,
Do meu desassossego sem fim...
Porque diante deles eu não nego
Quanto desejo há em mim.

Camila Paula
Poetisa

Quando eu te encontro


É tão bom te encontrar
Os meus olhos buscam os seus
E quando encontra. Eu me perco em seu olhar
O seu sorriso me faz tão bem
Que sem ele eu não sou ninguém
Eu ficaria horas a te admirar
Encantada com sua beleza, sem me cansar
Como é bom sua companhia.
Viajo na alegria do brilho do seu olhar
Tudo em você me fascina
Sua voz, seu jeito de caminhar
Cada minuto ao seu lado é mágico.
E me enche de emoção.
E quando eu fico distante, a saudade bate forte.
Eu me sinto como um pássaro.
Presa em minha solidão.

Rosenilda Praxedes Pereira
Poetisa

Que seja


Que a vida seja linda e doce,
Cheia de sorrisos e paixões...
Que o amor encontre a luz
E que o tempo se faça em paz.

Que tudo seja grande como o mar
E que de eterno sejam só as palavras
Que saem tortas dos meus lábios
E encontram no caminho o seu coração.

Ariany do Vale
Poetisa


Cárceres

Os trens não me podem levar às galáxias, não os há,
e as andorinhas estão presentes com o verão em suas asas.
O banzo ancestral me impede de recordar seu rosto,
o rosto do meu avô, de minha ama de leite,
da cara dos fantasmas encarcerados no baú do quarto.
No peito, sufocados suspiros, ais de menino mimado
que lamenta a perda do brinquedo, o leite derramado, a tunda,
o castigo e o “Piraí” estalado nas pernas finas de saracura três potes.
Os trens não me levam daqui e os livros ainda não se lêem,
de páginas secretas e arabescos insondáveis: “_b-a-bá!”
A rua enladeirada pés não pisam e o automóvel a garagem interdita,
todos os burricos são xucros não se deixam montar.
No canto do alpendre o mosquito se enrola
na teia da aranha em que todos estamos presos,
não importa a inocência, a culpa ou as asas.
O passado prendeu meu tio que matou por amor,
e o tio do meu tio, por demanda de terras.
Bicho-papão também não há, a luz elétrica espaventou
e no quintal Totó acorrentado, para não molestar as visitas.


Francisco Ferreira
Poeta


Um lema


Vamos,
qual a sua posição?
Reflita,
conjugue o verbo,
aperte o botão...

A minha?
Legaliza a opção
na democracia,
sem intervenção da polícia,
e toda liberdade de expressão!
A minha,
quebra barreiras
e tabus...
Todo dia,
tolerando hipocrisia
dentro de casa e na padaria;

o álcool sobra, o álcool mata!

A minha?
É contra
toda forma de tirania
e a programada alienação pela
mídia, da nossa burguesia...

E você?
Pense, reflita...

Não temos educação,
o trabalho custa caro;
e de quebra,
por causa de um mero baseado,
polícia prende estudante universitário...

A minha,
é a vanguarda
sob o tradicional,
o novo,
beijando a face
da não permanência universal!

Yuri Hicaro
Poeta

sábado, 10 de março de 2012

Fuga


A impaciência que me habita
E minh'alma que vagueia
Pelos imensos vãos de mim,
Inquietando a minha mente,
Exaustando o meu corpo,
São discípulos de um sonho
Que eu sonhei
E que hoje corro
Fugindo dos seus rastros,
Apagando os meus passos,
E que, mesmo assim, ainda me encontra
Com um sorriso desfeito
E um olhar tristonho...
Eis que é assim que, por vezes,
Me pego sonhando o mesmo sonho.