segunda-feira, 19 de março de 2012

Cárceres

Os trens não me podem levar às galáxias, não os há,
e as andorinhas estão presentes com o verão em suas asas.
O banzo ancestral me impede de recordar seu rosto,
o rosto do meu avô, de minha ama de leite,
da cara dos fantasmas encarcerados no baú do quarto.
No peito, sufocados suspiros, ais de menino mimado
que lamenta a perda do brinquedo, o leite derramado, a tunda,
o castigo e o “Piraí” estalado nas pernas finas de saracura três potes.
Os trens não me levam daqui e os livros ainda não se lêem,
de páginas secretas e arabescos insondáveis: “_b-a-bá!”
A rua enladeirada pés não pisam e o automóvel a garagem interdita,
todos os burricos são xucros não se deixam montar.
No canto do alpendre o mosquito se enrola
na teia da aranha em que todos estamos presos,
não importa a inocência, a culpa ou as asas.
O passado prendeu meu tio que matou por amor,
e o tio do meu tio, por demanda de terras.
Bicho-papão também não há, a luz elétrica espaventou
e no quintal Totó acorrentado, para não molestar as visitas.


Francisco Ferreira
Poeta


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