segunda-feira, 28 de maio de 2012

De repente



Você chegou de repente
E, de repente, se fez constante,
Um presente.
À noite passei a chamar teu nome
E desejar seu beijo quente.
Querer te contar meu dia.
E apertar meu peito, quando ausente.
Assustei-me!
E menti: - Não me ligue, não me faça feliz!
Por medo de te amar,
Neguei o bem que me quis.
Mas é tanto o bem que me faz,
Que em segredo...
Sorrir ao acordar, eu sou capaz!

Camila Paula
Poetisa

Incondicional



Para minha mãe

Eu poderia lhe presentear –
Se assim fosse possível,
Com toda riqueza deste mundo e,
Ainda assim,
Meu débito jamais seria pago,
As noites em claro quando a doença chegava indesejada;
O compromisso em me ver alfabetizada;
O incessante limpar de chão alheio para a comida não faltar.
Nada, absolutamente nada disso,
Poderia ser pago.
Poderia cobrir sua vida de conforto
E prazeres que lhe foram privados
Pelo dinheiro sempre curto
E, ainda assim,
Os calos continuariam marcados em suas mãos;
O suor do trabalho árduo eternizado em suas costas doídas e cansadas.

Eu poderia dar à sua vida – a toda ela,
Aquela folga tão sonhada
Que suas obrigações nunca lhe permitiram ter
E, ainda assim,
Minha dívida continuaria –
Eu não pagaria a sua obrigação extra,
Em tê-la sido pai,
Quando a ausência sempre o manteve símbolo.
E você o foi como nenhum outro jamais seria...

Eu poderia te dar a vida que tanto merece
E o destino poderia ter-lhe concedido,
Mas seria eternamente devedora –
Suas rugas em volta dos olhos
E os cabelos brancos que avançam com a idade,
Continuariam me encarando,
Me apontando pelas falhas que eu poderia ter evitado,
Pelos constrangimentos que me pesam num martírio,
Pelo grande orgulho que eu deveria ser,
Mas peco, continuamente, como ser humano.

Eu poderia te dar a minha própria vida
Para me redimir do peso
Que lhe tenho feito carregar
E, mesmo assim,
Morreria endividada.
Então ofereço, humildemente,
As minhas mais sinceras desculpas.

Rayane Medeiros
Poetisa

Anoitecer



No firmamento,
O resto da tarde, lentamente, se vai
Por trás da linha do horizonte,
Fazendo uma junção
Do laranja com o vermelho,
Enquanto as estrelas vão tomando o seu lugar,
E, aos poucos, destacando-se, ganhando glória...

Os ventos começam a soprar, com mais umidade,
O nosso rosto e os leques dos carnaubais do sertão
Até que o véu negro da noite nos cobre
E a luz do luar banha de prata os telhados
Quando, com prontidão, dizemos: boa noite!

Sousa Neto
Poeta

Aproximação casual



Caminhada reta de minutos,
Segundos de vida interferida
Por passos na estrada.

Cruzo pessoas que paradas
Conversam, parados apesar da minha
Interferência, calado por eles passei.

Outros caminham em direção contraria,
Que às vezes em segundos, passo a fazer
Parte dessa vida e caminhada que não conheço.

Vidas distantes aproximadas
Pelo movimento constante.
Em repouso ou movimento
O que muda é o referencial.

Ronne Grey
Poeta

sábado, 5 de maio de 2012

Árvore

Prostrado
O marido acordava
Comia
Sujava um prato
Cansada
A esposa levantava
Lavava o prato
Nem bem enterraram o velho
A viúva sexagenária
Pediu que lhe arrumassem
Uma muda de alguma coisa
Plantou-a bem na varanda
A Planta cresceu
As folhas caíram
A velhinha então
Encheu baldes e baldes
Das folhas de sua arvorezinha
Sempre reclamando do Sol
Sempre feliz
Por ter uma arvorezinha
Que derrubava folhas o bastante
Para encher vários baldes
E Preencher várias tarde vazias.

Samuel de Oliveira Paiva
Mossoró,
05/05/2012