sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O incêndio do “eu” – II




Dentro do peito
Como uma chama acesa,
Esse Nero de outras eras,
Esse errante marinheiro do eu,
Queimando-me por dentro
A chama opaca de meu fim...

Dentro da alma,
Vazia como o olhar de uma mulher na esquina,
Esse Nero hipócrita e medroso
Insiste em levar-me para além
De um instante mitigado de fantasmas...

Um Nero acende meu peito como uma fogueira
E me deixa a boiar na noite escura
Dentro de mim, como quem desnuda
Sua face sangrenta e covarde
Do que um dia me foi, incêndio e desastre.

Um Nero flameja no meu ser...
E apenas me igualo ao que não foi.
Sou parte do todo que se esvai,
Uma lembrança apenas e um depois...

Queimando sobre um corpo qualquer,
Esse Nero, que me abre o peito,
É também como o olhar daquela mulher.

O incêndio do “eu”




Dentro de mim como qualquer coisa
A enfeitar-me a imensidão de trevas alheias,
Há um Nero que descarrega sua fúria
Sobre meus dias de solidão...

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O senhor do amor


Diante de mim,
Mais uma vez, o amor
Em sua forma mais transparente
Despiu-se aos meus olhos
E quis fazer-se meu escravo
E eu que sempre fui servo
Via-me agora no papel de senhor
Senhor de todas as coisas
Ou simples senhor do amor
Que a mim se rendia
Em cada frase entorpecedora
Em cada carinho audaz
O amor se despia pra mim
Sem exigir nada em troca
Amor de forma humilde
Amor que não é dono
Amor que não quer posse
Amor só por amor
Amor legítimo
Havia em mim, porém,
Todo um universo a parte
Aquele amor imenso
De tão puro,
Fez de mim um ser covarde.
Como haveria eu de lidar
Com toda aquela atenção?
Como saberia retribuir?
Como poderia não querer?
O amor que não nos cobra
É o que mais nos faz oferecer
Oferecer-se por gosto
Entregar-se nos teus braços
E satisfazer suas vontades, seu gozo
Me vi assim incapaz
De ser tudo aqui que me afligia ser
Fugi do amor
Por medo de não saber corresponder

Novos velhos medos


Outra vez as cartas na mesa
Mesmo após todo esse tempo
Tudo se configura da mesma forma
Mas não pela repetição                          
Eram agora outros contextos, outras pessoas, outros medos
O traçar do baralho, porém, parecia seguir uma forma regular
Alinhando os novos elementos
Do mesmo modo que o fez tempos atrás...

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

I

Como posso pedir que o amor deixe-me
Se ao vê-lo enlouqueço de paixão.

Não por mim em paisagens ou mistérios despidos,
mas por essência do que vivi.
Experiências de viver!
Do que sou no íntimo.

Entristeço-me ao reflexo que vejo no espelho do meu quarto escuro
e cheio de lembranças de uma época que não era.

Que nunca fui;
Que foi imaginada;
Experiências de viver.

Marcos Antoniel
Poeta

As cores do meu sertão




Encanta-me ver o sol descendo no horizonte
Corando o céu azul e levando mais um dia,
Trazendo-me a beleza do meu lugar distante;
Fascinam-me as cores quentes que de longe irradiam,
Aquece a minha mente invadida de saudades...
A verdade é que nesse mar eu só encontro solidão
E o meu coração possui asas que deixam essa cidade
Voando como um passarinho a caminho do meu sertão.

Ana Rita Dantas de Lira
Poetisa

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Todo dia...

Todo dia um novo dia,
Mas nem sempre um amanhã...
Amanhã já é incerto por ser
E eu já não sei ao certo o que dizer,
O que sou,
O que sou pra você,
O que queres,
O que queres de mim,
O que se olha quando
Já não se sabe mais o que se vê?


Ariany do Vale
Poetisa

Cordeiro

Brisa suave do campo,
Inspiração de todo querer,
Sol que irradia a cada manhã,
Senhor de todas as coisas,
És a parte mais sublime de todo ser...
Luz de todo conhecimento,
Mágica da vida eterna,
És o tudo e o todo
Da existência
Que já não tem fim.
És os versos
Que sempre estou a escrever.
Parte de mim
Que me faz manso,
Doce sabor de vida
Árvore que não perece
Fonte de águas límpidas,
Amor que o fio tece.


Simone Costa
Poetisa

Discórdia




A cada trago,
Um estrago,
De sua baforada
Me distancio...
Não acenderei teu cigarro...
Disto, eu não compartilho!

Não te vejo por trás da fumaça
Que você, não sei por que, reproduz
E a mim, onde será que me vejo,
Sem ter sabor no teu beijo?
Que não tem o mesmo sabor:
Dos tratos que fizemos entre nós mesmos
De ter os mesmos desejos,
Na vida seguirmos juntos?
Não comungamos mais...
Não acenderei teu cigarro!

Seremos outros a cada vez que acender
A discórdia entre os dedos
E isto, faz, sim, diferença:
Longe ou em minha presença,
Acredite: Não somos mais um.


Camila Paula
Poetisa

Barco à deriva




É em teus mares que navego
E mergulho na tua imprudência
Inadvertidamente.

Bebo teus goles Intragáveis –
Sal,
Amargor,
Doçura efêmera.

Teu corpo em minha saliva,
Em minha pele
Marcada sem dor,
Sem pudor,
Tampouco arrependimento.

Um barco à deriva
As águas lhe tragam
Mastigam
E lhe convertem
Do inferno ao paraíso,
Das noites em claro aos dias frios.
E lhe cospem no suor sagrado
O pecado dos que fogem à vida.


Rayane Medeiros
Poetisa

domingo, 25 de setembro de 2011

A natureza se alegra quando chove no sertão




Nosso nordeste sofrido
Só tem bastante alegria
Quando a chuva cai no chão
Chove de noite ou de dia
Não há coisa mais bonita
Quando se vê o clarão
Do relâmpago que clareia
Ou quando se ouve o trovão
A natureza se alegra
Quando há chuva no sertão.


Sertão dos agricultores
Que vivem da plantação
Que sofrem as conseqüências
Quando não há chuva no chão.
Vivem plantando e colhendo
O seu sustento fazendo.
Pra não pedir ao patrão
Mesmo assim ainda não tem
O direito que devia
Sofre sentindo agonia
Andando de pés no chão
E ainda tem alegria.
O sertanejo se alegra
Quando chove no sertão.


Quando amanhece o dia
Que a terra está molhada
A criação se alegra
Canta toda passarada
O sertanejo contente
Chama sua filharada
Pra colher a plantação
Até a mulher então
Vai pra roça com alegria
Chega em casa cansada
Se senta lá no portão
A natureza se alegra
Quando chove no sertão.

Canta o galo no poleiro,
Urra o bezerro chamando
A vaca pra mamar,
É os passarinhos cantando,
Um cachorrinho a ladrar
Para espantar o ladrão.
O seu dono vai chegando
Em casa todo molhado
Com uma inchada de um lado
E um chapéu de couro na mão
A natureza se alegra
Quando chove no sertão.


Nenem Estevam
Poetisa

Amor contradição




Vírus que de arroubo invade a mente,
Furta e se apodera da pérfida razão,
Fruto de um coração inconsequente
Que se entrega ao pesar de tão fria condição.

Melodia embaraça e arranha os ouvidos,
É intenso o tormento e a alma não reclama...
Apossa-se dilacerando todos os sentidos,
Solve todas as dores na mais enlevada flama.

No amor o sofrimento está a um passo da felicidade,
Sentimentos incoerentes colidem em contradição,
Emoções que se alternam em igual intensidade
Desfazem-se e renascem nas sendas de uma paixão.

Ana Rita Lira
Poetisa

Iluatração: Mayara Moraes - esfriouocafe.blogspot.com

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Borboleta

Posso ainda ser casulo,
Mas vislumbro todas as cores
das asas que me darei!

Cavaleiro sem aramadura


Hoje eu sou o cavaleiro
Sem mancha
Sem mágoa
Minha armadura descansa.

Não, não cansei de lutar.
Apenas me permito ser mais leve
Numa vida que me leve
Livre!

Das amarras e das armas
De me defender e de guerrear
Aos canhões, as flores.
À escuridão, o brilho das estrelas

Feridas são curadas
E a vida não pode ser medo de morrer!
Mais bonito que a dor
É ver a vida renascer, e viver. Reviver!

Sarita



"Ninguém pode julgar o que acontece dentro dos outros"

Preciso dizer que andei avulsa
Que andei tardia
Pelas noites que ia
Do amor, expulsa.

Preciso dizer que andei vadia
Que me causei repulsa
Pelos beijos que daria
Em tantas bocas, confusa.

Preciso dizer que me vistia
Do vestido mais curto
E pintava os olhos de preto

Pra não dizer que tinha medo
De ser pelo amor negada
E permanecer do amor, segredo.

Para tentar encontrar minha alma
Em um corpo que não era o meu.

Lírio


Lírio,
Teu lírico delírio
Me deixa a flor da pele:
- Flores a mil!
Me visto de lírios - orientais, asiáticos
E descubro a pureza
Que liricamente me faz amar
A vida.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O cheiro da morte
















Era quase novembro
E seu peito já sentia o frio mais presente
Seus lábios sentiam a saudade mais intensa
E seu corpo sentia aquela ausência ainda mais ardente
As folhas que os galhos soltavam nas ruas
Deixava-as ainda mais entristecidas
Ruas vazias de gente
Cobertas de folhas sem vida
Um cheiro intenso e por vezes familiar
Invadia seus sentidos
Um cheiro que entrava pelos poros, boca, nariz e ouvidos
Quase um dejavu
Como um retrato do tempo emoldurado pela vida
Era o cheiro da morte traduzido em tudo
Nas folhas que caíam ao chão
No vento que arrasta outros odores
No perfume embalsamado de algumas flores
Nos troncos de algumas árvores
Ou mesmo em seus galhos podres
Não sabia de onde vinha, mas ainda assim reconhecia
Aquele cheiro incomum
O cheiro da morte
Presente em pequenos pedaços de nostalgia.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Enamorada

Debruço-me em tuas palavras
Com meus ouvidos enamorados
Navegando em teus olhos...
Degusto seu tom de voz aveludado.


Passeio em tua pele morena
Sugando o mais puro mel
Cada cantinho visitado...
Viagem embalo de carrossel.


Descanso em pelos macios
Desperto com seu queixo a roçar
Minha pele, há pouco, labaredas...
Recostada em remanso de amar.


Saboreio teu sorriso atrevido
Levado menino travesso
Domesticada feito leoa...
Vira-me pelo avesso.


Fátima Feitosa
Poetisa

À poesia

Como posso te amar, Poesia
Se não há mais a esperança que havia?
Não posso te declamar com o fogo antigo
Porque teus versos não me dão abrigo

Como posso te escrever, Poesia
Se em cada linha tua jaz meu amor?
Cada pequena palavra, agora vazia
Não me acalma, nem diminui minha dor

Como posso te querer, Poesia
Se tu rimas a minha desgraça?
A tua espada afiada trasnpassa
Mas não mata, afogando-me em agonia!

domingo, 18 de setembro de 2011

Outrora não sentida

Dói, é uma dor outrora não sentida
Meus olhos não veem o que querem entender
Dói, é uma dor outrora não respondida
Meu coração reclama aquilo que deve ser seu
Dói, é uma dor que por vezes não quis ser ouvida

Sua voz em meus braços caem
Como chuva na areia fina
Suave,
A dor dói sem entender
Dói, é uma dor outrora não sentida,
Mas reclamada...


Cleiton Vieira
Poeta

Ilusão


Na minha dor
Guardo ilusão;
Guardo sonho
Dentro do coração aflito.

Angústia disfarçada
Num sorriso
Onde a luz
Parece não existir...
Viver no mundo
Entre tantos
Olhares perdidos.


Cleide Regina
Poetisa

Observações de uma noite em claro

O faceiro sol desaparece no horizonte
A escuridão banha as ruas com a sua imensidão
O silêncio das pedrinhas que ladrilham as calçadas
Gatos no telhado tocando violão
Entoando melodias em poesias aguçadas...

Envolventes canções que embalam os segredos
Que nos bueiros se escondem pra não ver a solidão
O muro se lamenta mas se despe dos seus medos
Das proezas de um bêbado que dança na contramão
E o vento traz os risos de um casal de namorados
Revelando dois amantes que perderam a razão...

As árvores oscilantes se envolvem na paisagem
No silêncio das imagens que precedem o alvoredo
Cedo dorme a noite quando é em sonhos embalada
Com as estrelas e a lua que completam o enredo
O sono vai embora com a fria madrugada...


Ana Rita Dantas
Poetisa

Lamento

Lamento sufocar minha
Estupidez nestes versos...
Ignorantes,
Ignorados.

Lamento liberar
Meu absurdo,
Meu sonho
Para um mundo vigiado.

Ignoro não ser escutado,
Um fingimento... pragmático.
Eu sinto
As lágrimas que escorrem,
O fogo que queima,
O voo subestimado
Com o sufocar dos meus lamentos.

Eu lamento tudo isso,
Freneticamente,
Com o cintilar de alguns cigarros...
Pensamentos.
É misto o meu segredo
O meu veneno...

Um excremento a lamentar
O excremento,
O veneno a envenenar
O meu lamento...

É o lamento a alimentar
O meu momento.


Yuri Hícaro
Poeta

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Alma de Poeta


Onde estiver um poeta,
Sua alma cedo ou tarde
Há de achar inspiração
E ele há de extrair de seus desejos impossíveis
Sua maior fonte de inspiração
Nasceu para aquilo
Pra ser escravo da paixão
E emocionar os corações com sua dor.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Interior


Fechei a porta e não olhei pra trás,
Saí pra não voltar!
Quis sair de mim
Para afastar-me de ti,
Pra fugir de cada pedaço teu que me assombra aqui dentro!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Só resta esquecer


Esqueceu minha mão

Esqueceu minha boca

Lembrou-se do não

Me chama de louca

Não de paixão

Minha mala de roupa

Joga ao chão

Meus sentimentos não poupa

Parece esquecer

Os amassos quentes

Dados ao anoitecer

Atritos salientes

Prazer do proibido

Casal inexperiente

Testando a libido

Rápido veio

Não tardou sumiu

Do calor do meu seio

Nada mais viu

A mim só restou

Seu cheiro num cobertor

E lembranças antigas

Do que fora

Amor.

Poesia Largada

Só queria saber

Aonde esses versos vão me levar

Se está de dia ou ao anoitecer

Se já tá bom ou não de parar

Com essas palavras dá pra rimar?

Sei lá

Vamos arriscar

Errar não tem nada não

Basta rasgar a pagina

A gente outras coisas imagina

Usa uma metáfora , um jargão

Uma expressão culta e fina

Ou até mesmo um palavrão

O importante é escrever

Digo poetizar

Pacientemente, ir devagar

Tem que compreender

Não basta só ler

Pegar o bruto e desnudar

Evadir-se

Transportar

Entediei-me

Já cansei

Tenho que largar

Larguei!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Ícaro




Com a solidão desta noite,
Com a solidão desta discórdia em mim,
Com a solidão desta minha vivência de nada
- Fotografado por minha ausência –
Meu ser como qualquer outro,
Meu ser como qualquer esboço
Daquilo que me prescreve a vida,
Daquilo que me discerne o nada –
Flutuo em minha consciência,
Vou pelos caminhos
De minha essência.

O inferno do dia




A poesia que me surge vem do agora,
Do que aqui está – bem profundo;
Vem do próprio ser, do imundo
Interior que carrego para sempre...

Brota dos meus olhos – luz e pena –
Farol de qualquer coisa inconseqüente;
Está desterrada de minha identidade,
Isolada em sua solitária realidade...

É visceral o pensamento que me invade
Quando fecho os olhos para ver
O inferno do dia e nele fenecer
Como uma coisa entre coisas
– Dentro de mim – até morrer!

Meta




Ao escrever, o poeta cumpre sua meta;
Desenha, sobre as coisas, sua estética;
Expulsa do ser o que lhe degenera.

O poeta canta e segue sua meta,
A de apenas findar-se onde tudo se encerra,
A de apenas fluir-se onde não se altera,
A de despertar do sono que um dia foi quimera.

Esta vida apenas – o canto que lhe observa
O pensamento vivo – luz sobre o peito – névoa.

O poeta canta e nesse canto
De algum lugar desprendido
Segue, às vezes, arruinando
O furor do antes destemido
Homem que brotou de seus pulmões –
Mais que um sonho reprimido.

O poeta cumpre sua meta,
Meta do papel, da solidão de não ter meta;
Meta da noite, sua marca preciosa;
Meta da não-meta mentirosa...
Da ilusão sempre pressentida
E que lhe seguirá pelos vãos
D’uma caminhada indefinida.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Revolução

As máquinas modernizaram o espaço
Abafaram dos pássaros o sonoro cantar
Descartaram o rosto que estampava o cansaço
Impuseram ruídos, poluíram o ar!
As pedras sobre os antigos campos brotaram
Não haverá mais perdão para um simples tropeço
Os sentimentos partidos com dinheiro compraram
O valor do humano transformaram em preço!

Ana Rita Lira
Poetisa

Observador errante

Do reflexo no espelho do corte da porta
Alumia-se a guisa de um relâmpago claro,
Luz e brisa vacilam na parede torta
A lâmpada tremeluz-se num só disparo
E gotas transpassam no telhado vazado
A sombra disfarça o que escapa a pouca luz
O rubro na parede escorre libertado
A intempérie triste um relâmpago produz
O abajur solitário fica inconsolado
Parece clarear apenas parte do corpo
Inerme e sob a chuva intensa no telhado
Reflete uma luz o espelho vivo no morto
Pois que se tal carcaça expirou num só instante
Foi sob os olhos de um observador errante

Jorge Witt
Poeta

Andança

Entre ruas e becos,
Entre bares e desejos,
Entre bocas e beijos
Vou te deixando para trás.
Desalento meu,
Que busco em outros braços...
Teus encantos
Em outros lábios;
Teu desejo
Em outros leitos;
Teu descanso...
E a cada manhã
Tua presença...
E é nessa dor -
Nessa peleja -
Que tento, em vão,
Esquecer-te.

Simone Costa
Poetisa

O poema que eu deixei de escrever




O poema que eu deixei de escrever,
Falaria de você,
De nosso tempo,
De angústia, de tormento,
De alegria e de prazer.
Iria contradizer
Cada palavra
Que as nossas falas
Tinham pouco a dizer.
O poema que eu deixei de escrever,
Seria na verdade,
Uma ameaça.
Calaria minha boca,
Qual mordaça.
Não seria uma desgraça,
Por não ser.
Os meus versos,
Talvez fossem sem querer,
Uma ofensa
A sua crença,
Que eu acreditava
Ter.
O poema que eu deixei de escrever,
Não seria
De valia.
Sem valia,
O deixei de escrever.

João Felinto
Poeta

sábado, 3 de setembro de 2011

Efeito borboleta

Enquanto dorme
Seu sono
Inconsciente
Minhas mãos-borboletas
Confidentes
Passeiam
Pelos sonhos
Que povoam
O seu jardim-coração.

Bato as asas
Acordas.
Sou tufão.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Espectro humano



Olhou outra vez aquele espectro mal moldado
E sentiu pena daquela forma humana maltratada
Um rosto cansado e um corpo esquálido
que se esgueiravam pelas ruas
Assumindo assim a forma de outro ser
Tentando ali não denotar
A extrema pobreza de seu viver
Ficou ali parado por instantes
Contemplativo
A admirar-se de si o desencantamento
A falta de vigor e de bom senso
Um homem e sua imagem
E todo o nada que de si restou
Uma figura massacrada e quase sem vida
Um rejeitado pelo tempo
Uma figura humana 
Pela própria morte esquecida!