sábado, 9 de julho de 2011

Por inteiro

Se me queres por inteiro me terás aos pedaços
Arrancados um a um pela dor que a tua ausência me causou
A pele, o corpo, os sentidos, meus abraços,
Arrumei-os numa caixa e lacrei a embalagem.
Meu sorriso, minhas palavras, meus olhos amedrontados,
Arranquei-os um por um com imenso sacrifício,
Principalmente as palavras, essas teimosas, insistiam em entalar na garganta;
Cortei então a sangria,
Entre o vermelho e as lágrimas, as palavras me escaparam: raiva, tristeza, desgosto e mágoa,
Essas foram mais previsíveis ;
Solidão, vazio, angústia e ansiedade vieram como consequências ;
“Eu te amo”, foi a surpresa!
Saiu de minha garganta, misturou-se com meu sangue, estava ai dentro de mim, e eu nem sequer percebi.
Se me queres mesmo por inteiro guarde também as palavras
Separei-as pelas cores, em diversas tonalidades, das mais claras às mais sombrias,
Fique também com as ofensas, são pedaços também de mim,
Se não as quiser, não as use, mas não as dê fim.
Surrealmente falando, imerso ao sangue que se esvaia da garganta, arrumei uma garrafa e depositei toda a minha respiração,
Antes que o ar se esvaísse e para ti nada restasse.
Não, é verdade, tu nada me cobraste!
Mas aceite a oferenda
Separei um pacote exótico,
Com fígado, pulmão, a medula e os rins,
O sangue tentei guardar,
Mas foi impossível reter ,
Fugia com meu transpirar
Junto com as lágrimas a descer.
Arrumei em outro deposito aquilo que não hei de usar:
Os pés que não mais caminharão para ti,
Os braços que não irão mais te abraçar,
Junto com o sexo e todo o resto.
Sobrou-me apenas o coração
Sangrando, pulsando, implorando-te
Este eu quis enterrar,
Mas inteiro é inteiro
E nada pode faltar.
Te dou também essa parte,
Me doei sim por inteiro
Esse sou eu de verdade,
Em sentimento, ternura e desespero,
Em carne, osso e excesso,
Em alma, amor e exagero. 

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