A José Régio e seu Cântico Negro
Quando esta noite vem
E me diz por onde devo caminhar,
Deixo de me ser – luta por luta –
Até me entregar.
Não vou seguir os mesmos passos
Ancestrais que me maculam a memória.
Vou por outros caminhos
Como quem descobre sua trajetória.
Não vou seguir os mesmos passos,
As mesmas trilhas que me dão.
Abandonarei estas fagulhas,
Estas migalhas, este vão...
Não vou! Nunca irei adiante
Pelas sendas deixadas neste incerto
Vagar de meus destinos;
No silêncio fugaz, meu deserto...
Sou apátrida, maldito e meu verso
Escoa pelos olhos esquecidos
De qualquer imagem, do indefinido
Fantasma que um dia foi passo diverso.
Vou, assim, pela madrugada:
Fagulha do ser, coisa passada.
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