quinta-feira, 4 de outubro de 2012

“Em espessa e úmida noite”:


É uma espessa e úmida noite,
Onde as verdes velas – que fervilham
Em obscuros misticismos – ardem
Indolentemente sob o olhar vítreo
Que dirijo até à tua sombra,
Adensada apenas pelo suor
Dos corpos que atiçam o desejo.

Tudo está longe, distante como
As estrelas que tremem solitárias,
E nós não compreendemos o meio
Das horas se escaparem – e o tudo
Que de mais venerável amparamos
Se esvai pelos ralos do Tempo…
A noite prolonga o seu declínio.
Atraídos pelo silêncio do murmúrio
Da nossa secreta canção de amor,
Somente nos distanciamos, vis,
Em contrastes de repulsa e paixão,
Invariavelmente pulsando no
Pequeno âmago que nos compõe,
Ainda que entregues estejamos
A esta infrutífera proscrição.

Mas como amo esse corpo de luz!
Teus cabelos de finíssimo cobre,
Teus olhos de verde marítimo!
És um sonho meu decalcado,
Sempre soube isso em mim…
Como desejaria apertar teus seios
Contra a virilidade do meu peito,
Segurar em tuas coxas com vigor,
Perder-me nos segredos de tua púbis…
Esvaziar uma secretária e dela
Fazer um amplo leito de amor!
Teu ventre tem os segredos da alma,
Teu enigmático sorriso as rimas
Que sempre ensejo capturar…

Nesta hora, não roubo beijos teus,
Doces como a brisa que me refresca;
Continuas nos trilhos desse mundo
Que, oculto, avança por teu ser,
Fazendo de ti aquilo que deveras és.
Navegas por oceanos mitológicos
E eu suspiro por ser o teu herói grego.
Na memória, ilusões de outras noites,
Onde o fogo passional nos consumia
Até à declarada exaustão, onde nos
Desdobrávamos em beijos e em
Tão coordenados movimentos,
Numa dança de maré ao ritmo
Dos nossos corações sedentos.

Mas o espectro da noite quente
Prende-nos ao vazio do espaço
Que languidamente ocupamos…
Por demais fatigados para resistir,
Caímos em um sono acordado.
Despertar-me-á o teu amor?
Os instantes fervem a dor que,
Incômoda, lateja em meu peito.
Não sei de sua certa origem,
Mas sei-a como estranho corpo
Em hora que seria perfeita –
Como chuva que tomba, fora
Da sua adequada estação.
Poderia ser diferente? Colorido?
Passam os instantes e enruga-se
A folha onde outrora esculpimos
O mais sublime dos poemas…

Pedro Belo Clara
Poeta

4 comentários:

  1. Apaixonante história de amor...adorei ler.Parabéns amigo e Poeta Pedro ;) beijinhos

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  2. Bom sabê-lo, Pandora.. ;)
    Agradeço a visita, leitura e comentário.. Grato!
    Beijos poéticos ;)

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  3. Perante esta maravilha, só posso dizer que, foi escrita por um grande POETA.
    O meu abraço de parabéns, Pedro.
    Cremilde

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  4. Muito agradeço a sua visita, Cremilde! Bem como o comentário que sempre me engrandece e gratifica... =)
    Beijos poéticos.

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