terça-feira, 19 de novembro de 2013

O Grifo


E fui eu, enquanto dormia,
Raptado de um mundo que esfuma
Por um grifo assim de azuis plumas
De um mundo o qual nunca se vê
E vendo-me lá, nada eu via...
E foi muito bom nada eu ver
O grifo só a mim me queria
Mais nada podia eu querer.

E assim me levando ele ia,
Melhor não podia isso ser.

Me foi devorando em feitiço
E nisso me atou às suas asas
Tão grises e azuis na desasa
E ao viço de seus olhos ruges
E vi-me tornando submisso
Me rindo do langue bafuge
Estive a gostar muito disso
E ao pé dos ouvidos me tuge

O grifo a dizer: 'Tempo urge!'
Espraiando voo no abisso.

Senti-me tão leve e tão vivo
Voei em seu dorso e então
Esgarcei sorrisos, razão
Pela qual eu não quis deixar
O grifo, bel', lúdico, ativo
Que agora me iria entregar
Ao meu velho mundo adustivo
Ao qual não queria eu voltar

Fiquei de sua graça cativo.
A mim ele iria tornar...

...depois que a mim seduziu
No eflúvio de sua beleza
De mim arrancou a crueza
E pôs em meu peito a paixão
Jurou-me tornar e sumiu
Senti-me deixar comichão
Guardei este nosso amasio
E peço ao ignaro perdão:

Vazio é teu peito, o meu não.
Meu grifo preenche o vazio.

João Costa
Poeta

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