terça-feira, 18 de setembro de 2012

Confissões


É por tanto te amar
Que te liberto, meu amor –
E não mais as cruéis milhas
Nos farão sofrer e ansiar.
Perdoa-me se assim julgo,
Perdoa-me se me afasto
Para curar minhas feridas
Na cabana do Tempo Eterno,
Mas… o coração não suporta
O peso de mais uma chaga.
Nunca um amor me doeu tanto,
Nunca me dilacerou tanto assim…
Talvez nunca um outro tenha
Sido tão sólido e deslumbrante
Como aquele que trouxeste em ti.

Sejamos livres! E nossos sorrisos
Continuarão sempre paralelos,
Pelas curvas e rectas do caminho,
Até que o sol se ponha por sobre
Todos os que fincam seus passos
Na dócil areia dos anos fugidios.
Talvez em um outro qualquer lugar
Os ventos nos fossem favoráveis,
Mas nestes dias de denso negrume
Não há embarcação que resista –
E que tal saibamos aceitar.

Ah… É por tanto te amar
Que te liberto, meu amor!
Estende estas veras palavras,
Cinzeladas pela dor que punge.
Não derrames qualquer lágrima –
Delas não serei merecedor;
Não suspires sequer por mim –
Não serei eu o teu eleito.
Já tanto nos amámos, em silêncio,
Já tanto partilhámos à sombra
Dos dias avidamente consumidos –
E que isso, por ora, nos baste.

Hoje, nada para nós converge…
Desígnios dos Deuses? Não o sei…
Apenas que todo o porquê comporta
A sua infalível e justa causa.

É por tanto te amar
Que desejo erradicar esses soluços,
Essa angústia do impossível;
É por tanto te amar
Que te sopro pétalas como quem
Cala o impulso de um fervor;
É por tanto te amar
Que te liberto… meu amor.


Pedro Belo Clara
Poeta

2 comentários:

  1. Belíssimo, Poeta. Uma bela atitude... de quem ama verdadeiramente.

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  2. Subscrevo, claro... Todo o poema prova isso mesmo. Ainda que tal gesto doa. Mas se a felicidade de outrem depende disso mesmo, que seja.
    Agradeço a simpática visita, Ana..
    Beijos.

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