quarta-feira, 8 de agosto de 2012
Cinco Poemas para Charles Bukowski
I
A solidão me acompanha
Desde sempre,
Por isso não me sinto
Mais só...
Tenho-a comigo
(Como uma companheira presente)
A retirar-me do corpo
O lençol.
O amor, Charles, é como um cachorro
Que nos persegue
Pelas ruas,
Pelos becos
E depois fica inerte.
O amor, Charles, é um cão dos diabos...
Sempre nos colocando para baixo.
II
Essa melancolia, Charles,
É como
Aquele rastro de solidão
Vindo da tarde.
Ele vem e se arrasta
Sobre os móveis,
Para nos sinais de trânsito,
Se dependura nos outdoors,
Acena em meio à multidão...
Ele vem e se arrasta
Sobre as pessoas,
Está nas esquinas,
Nos bares,
Nas cercanias,
No falso aconchego
Dos lares...
Um rastro de solidão
Vindo da tarde
É como o homem que caminha
Compenetrado e triste
Por ter sido apenas
Um entre os demais...
Um rastro de solidão
Vindo da tarde
É como um homem que balança
Na corda bamba da existência
E depois se esparrama
Nos charcos da consciência.
III
Eu quero a solidão
Que nenhum
Outro homem quis:
A solidão plena,
A solidão minha,
A solidão que
Nos deixa
Por um triz...
A solidão-morte,
A solidão-vida...
Quero-a e por querê-la
Assim
(Tão amiúde),
É que meu corpo finda
E finito
Me ilude.
IV
Quando Dionísio, o Velho,
Conquistou as cidades,
Conheceu Dâmocles,
O interesseiro das vantagens...
Então, um belo dia, o rei
Mandou prender a uma crina
De cavalo o que entendeu
Ser ali a resposta, a sina
Dos que estão no poder
E que gozam da vida.
A espada foi dependurada
Naquela crina sobre a cabeça
De Dâmocles, o Interesseiro,
E ele tremeu, pois que entendia
Ser chegada a hora de ser ele mesmo.
Então, Charles, às vezes
Ficamos como Dâmocles,
Embaixo da lâmina
Sem sabermos
O que virá logo adiante.
V
Desvencilhar-se da vida, Charles,
Abandonar tudo e meter o pé na estrada,
Deixar-se levar e tão somente
Iludir-se da vida plenamente...
Ah, Charles, esse amor que guardamos
Dentro do peito, é um louco,
Um desvairado, um alienado e, no fim,
Um expatriado!
As coisas que me chegam agora, Charles,
Pelo correio, apenas me deixam ainda mais
Apegado às mesmas ilusões de antes...
E, assim, desenho esses dias,
Os dias e os levantes!
Quando amanhece e o sol apenas aquece
Um corpo qualquer,
Então me jogo
Sobre a desilusão que não me quer.
Esta sombra que invade nossa vida
É mesmo, velho Charles,
A podridão da nossa lida!
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