quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Poeminha do ônibus (Perdoe o mau humor, mas às vezes eu não sei quem sou)

Um senhor cantando sambas antigos,
Tento acompanhar as suas canções e o aplaudo mentalmente.
Uma moça fala ao celular sobre o capítulo da novela,
Ouvi dizer que o ônibus vai demorar,
Penso em acender um cigarro,
Mas já não fumo há meses.

Penso em fotografias antigas em preto e branco,
Em como elas dão um tom chique a coisas triviais,
Lembro-me de ter visto uma do meu falecido avô
Ele era um homem bonito,
Queria ter seus olhos.

O ônibus chegou atrasado,
Sinto que vou passar duas horas enfurnada nele,
Que inferno,
Deveria ter tomado café da manhã
Ou acendido aquele cigarro.

Um homem me pede ajuda para amarrar o cadarço,
Uma jovem senta ao lado do velhote tarado,
Tento avisá-la,
Ela me ignora,
Bem, boa viagem.

Maldita cidade de ruas esburacadas,
Me dói a barriga por conta dos solavancos,
Chuto a cadeira do velhote,
A moça me pede desculpas com o olhar,
Eu a ignoro.

Olho pela janela,
Vejo uma antiga amiga da escola
E o velhote foi encher o saco de outra jovem,
Mais que sujeito escroto,
Tento ignorá-lo.

Penso num poema inacabado,
Num romance inacabado,
No café pela metade que eu deixei na mesa do trabalho
E penso demasiadamente em todas as meias palavras que me engasgam.

Penso na teoria da relatividade,
Em divórcio,
Nas crianças mal educadas que acabaram de entrar no ônibus
Penso em você
E isso me irrita,
Não as crianças,
Pensar em você.

Me sinto como Dante
Nessa viagem infinita até o outro lado da cidade,
Começo a cair no sono,
Mas antes cair no sono
Do que de um oitavo andar
Ou de um ônibus em movimento.

Beatriz Fernandes
Poetisa

Nenhum comentário:

Postar um comentário