Um senhor
cantando sambas antigos,
Tento
acompanhar as suas canções e o aplaudo mentalmente.
Uma moça
fala ao celular sobre o capítulo da novela,
Ouvi dizer
que o ônibus vai demorar,
Penso em
acender um cigarro,
Mas já não
fumo há meses.
Penso em
fotografias antigas em preto e branco,
Em como elas
dão um tom chique a coisas triviais,
Lembro-me de
ter visto uma do meu falecido avô
Ele era um
homem bonito,
Queria ter
seus olhos.
O ônibus
chegou atrasado,
Sinto que
vou passar duas horas enfurnada nele,
Que inferno,
Deveria ter
tomado café da manhã
Ou acendido
aquele cigarro.
Um homem me
pede ajuda para amarrar o cadarço,
Uma jovem
senta ao lado do velhote tarado,
Tento
avisá-la,
Ela me
ignora,
Bem, boa
viagem.
Maldita
cidade de ruas esburacadas,
Me dói a
barriga por conta dos solavancos,
Chuto a
cadeira do velhote,
A moça me
pede desculpas com o olhar,
Eu a ignoro.
Olho pela
janela,
Vejo uma
antiga amiga da escola
E o velhote
foi encher o saco de outra jovem,
Mais que
sujeito escroto,
Tento
ignorá-lo.
Penso num
poema inacabado,
Num romance
inacabado,
No café pela
metade que eu deixei na mesa do trabalho
E penso
demasiadamente em todas as meias palavras que me engasgam.
Penso na
teoria da relatividade,
Em divórcio,
Nas crianças
mal educadas que acabaram de entrar no ônibus
Penso em
você
E isso me
irrita,
Não as
crianças,
Pensar em
você.
Me sinto
como Dante
Nessa viagem
infinita até o outro lado da cidade,
Começo a
cair no sono,
Mas antes
cair no sono
Do que de um
oitavo andar
Ou de um
ônibus em movimento.
Beatriz Fernandes
Poetisa
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