quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Última carta de uma árvore de quintal (ou Alma de Árvore)


Ela criou asas
E voou de mim
Como um pássaro
Que no seu primeiro voo
Dá adeus
E me deixa com os galhos
A balançar no vento
Derramo minha seiva âmbar
Como um choro de tristeza
Saudades do seu canto
seu ninho vazio
Agora é morada de parasitas
Meus galhos estão cheios de cupins
E apodreço aos poucos
As crianças que outrora subiam em mim
Já estão barbadas, e as vejo raramente
Quando ainda se aproveitam da minha sombra
Um ultimo desejo antes de ser cortada fora
Que no meu último momento de vida
Que subam os barbados em meus galhos
Olhem minha pele de árvore
Olhem minhas marcas
Escutem o vento soprando em mim
Fechem os olhos, e se imaginem crianças
E das nossas brincadeiras nas alturas
Ao menos uma última vez
Só ai então, permito que me cortem fora
Mas que ao menos um pouco do meu corpo
Sirva como um móvel
Ou uma obra de arte
E pendure meus restos mortais
Na parede, ou numa cadeira... Pra que assim
Mesmo depois de cortada fora
E morta
Possa por mais algumas gerações
Estar com vocês.

Jedaías Torres
Poeta

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