quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Sobreviva
O extraordinário abatedouro do indivíduo comum
reside num cotidiano truncado e estacionário,
e de lá resultam quase todas as formas de desencanto.
Mas pode haver flores – ou não.
Mas pode haver cores – ou não.
Mas pode haver dores...
Então diz ele: “Pois não!...”
A carne, outrora amaciada pelos desencontros,
encontra-se carimbada pelas mesmas sentenças e agora
descobriu a liberdade na prateleira do supermercado.
Felipe Conti
Poeta
Desamparo
De uma desordem desnecessária
Restou quase nada.
Partindo que fiquei perdida,
Em meio a estilhaços.
Me embriaguei de lembranças,
Assumi minhas inconstâncias
Abandonei os meus clichês...
Foi no silêncio dos teus abraços,
Inibir seus olhares Em um impulso -
Foi tudo tão confuso...
Desorientei,
Emudeci
E paralisei.
Yasmim Lima
Poetisa
Última carta de uma árvore de quintal (ou Alma de Árvore)
Ela criou asas
E voou de mim
Como um pássaro
Que no seu primeiro voo
Dá adeus
E me deixa com os galhos
A balançar no vento
Derramo minha seiva âmbar
Como um choro de tristeza
Saudades do seu canto
seu ninho vazio
Agora é morada de parasitas
Meus galhos estão cheios de cupins
E apodreço aos poucos
As crianças que outrora subiam em mim
Já estão barbadas, e as vejo raramente
Quando ainda se aproveitam da minha sombra
Um ultimo desejo antes de ser cortada fora
Que no meu último momento de vida
Que subam os barbados em meus galhos
Olhem minha pele de árvore
Olhem minhas marcas
Escutem o vento soprando em mim
Fechem os olhos, e se imaginem crianças
E das nossas brincadeiras nas alturas
Ao menos uma última vez
Só ai então, permito que me cortem fora
Mas que ao menos um pouco do meu corpo
Sirva como um móvel
Ou uma obra de arte
E pendure meus restos mortais
Na parede, ou numa cadeira... Pra que assim
Mesmo depois de cortada fora
E morta
Possa por mais algumas gerações
Estar com vocês.
Jedaías Torres
Poeta
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Pássaro que será
Sentado ao
meu quarto
Diante do
papel
Olhar nas ideias
Branco e
vazio
Viro rosto
para janela
Contemplo um
belo pássaro
A me encarar
Fixo a minha
mente
De repente,
tudo parece surgir
A ver aquela
ave azul
Imagens
começam a me conduzir
Consequência
do inimaginável
Começo a
escrever
Assim, sem
parar
Sem ler nem
respirar
Aquilo o que
será?
Reflexo
parado ali
Disperso a
me cobrir
Com seus
pensamentos
Sua
arrogância, sua leveza
Preso na
brisa
Brinco com
seu olhar
Movimenta
minha mão
e aquele
pedaço de papel
Voa longe e
eu me espanto
O bater de
suas asas me consome
Tudo, tudo
ali, me destrói
Quando vejo,
é tarde
Aquele lindo
pássaro, se foi...
Felipe Pizzi,
Poeta.
Uma história de amor
Eu prefiro o teu silêncio que o teu não
Deixo a porta aberta cito Quintana
Mas choro escondido com medo de que você se vá
Se eu pedir um eu te amo você fala sorrindo
Mas é teu silêncio o resto do tempo que fala mais alto
Eu sou a roupa velha que não te serve mais
O verso que não te comove
Teu universo se move e o meu fica para trás
Sejamos francos
Você é forte eu fraco e todos os buracos no meu peito tem sua forma
Mas de que isso importa se ao meu lado você fica tão longe
E sempre que me estende a mão o precipício aumenta
Eu quero o seu amor seus discos e livros e aquele baseado de outras datas
Mas no fundo por tanto te amar nem sei se quero que você me ame
Apenas não sei.
Nem eu nem algum deus que assiste a tudo gargalhando, com uma dose de uísque, um charuto cubano e uma cueca do Darth Vader...
Álesson Paiva
Poeta
Tudo e nada
Tenho tanto medo
que sorrio
Ando tão só
que me perco
Tenho tantos amigos
que disfarço
Tenho tantos amores
que nem lembro
solidão!
Carlos Volpi
Poeta
Letargia
Seu lindos pesadelos
te observam à noite
e o assassino já se escondeu,
ele está num lugar
onde não se pode encontrá-lo,
a necromante insana
ainda pratica eutanásia,
mas somos todos mártires
ou não nos odiamos o suficiente,
então agarra-se com sua dor
antes que ela fuja de você,
e vista-se para o funeral...
Mario Cesar
Poeta
Meu Rumo
Nas madrugadas os olhos estão adormecidos
Ele sussurra ao meu ouvido
Confundindo os meus sentidos.
Tuas palavras ecoam
Em um tom tão duvidoso,
Sempre me surpreende...
Intrigando ainda afirma
Que diz em meio a mentiras
Tantas verdades desnecessárias.
Diz que devo guardar o som
Que aceite certas imposições,
No expandir que encontre minhas possibilidades.
Yasmim Lima
Poetisa
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Poeminha do ônibus (Perdoe o mau humor, mas às vezes eu não sei quem sou)
Um senhor
cantando sambas antigos,
Tento
acompanhar as suas canções e o aplaudo mentalmente.
Uma moça
fala ao celular sobre o capítulo da novela,
Ouvi dizer
que o ônibus vai demorar,
Penso em
acender um cigarro,
Mas já não
fumo há meses.
Penso em
fotografias antigas em preto e branco,
Em como elas
dão um tom chique a coisas triviais,
Lembro-me de
ter visto uma do meu falecido avô
Ele era um
homem bonito,
Queria ter
seus olhos.
O ônibus
chegou atrasado,
Sinto que
vou passar duas horas enfurnada nele,
Que inferno,
Deveria ter
tomado café da manhã
Ou acendido
aquele cigarro.
Um homem me
pede ajuda para amarrar o cadarço,
Uma jovem
senta ao lado do velhote tarado,
Tento
avisá-la,
Ela me
ignora,
Bem, boa
viagem.
Maldita
cidade de ruas esburacadas,
Me dói a
barriga por conta dos solavancos,
Chuto a
cadeira do velhote,
A moça me
pede desculpas com o olhar,
Eu a ignoro.
Olho pela
janela,
Vejo uma
antiga amiga da escola
E o velhote
foi encher o saco de outra jovem,
Mais que
sujeito escroto,
Tento
ignorá-lo.
Penso num
poema inacabado,
Num romance
inacabado,
No café pela
metade que eu deixei na mesa do trabalho
E penso
demasiadamente em todas as meias palavras que me engasgam.
Penso na
teoria da relatividade,
Em divórcio,
Nas crianças
mal educadas que acabaram de entrar no ônibus
Penso em
você
E isso me
irrita,
Não as
crianças,
Pensar em
você.
Me sinto
como Dante
Nessa viagem
infinita até o outro lado da cidade,
Começo a
cair no sono,
Mas antes
cair no sono
Do que de um
oitavo andar
Ou de um
ônibus em movimento.
Beatriz Fernandes
Poetisa
Razões do tempo
Tenho medo das flores que murcham antes do amanhecer
Tenho medo da tinta que seca
Do vento que espalha todas as folhas
E as transborda no tempo.
Tenho medo que os sonhos se percam
Em caminho de escuridão
Sem encontrar os mistérios da razão.
Tenho medo que as lágrimas acabem
E não relaxe o coração
Medo que tudo vire cinzas
E que tenha que esquecer
As rimas da canção.
Tenho medo de ficar na velha estação
Esquecida...
Sentada no chão.
Tenho medo do tempo ínfimo
De uma vida de dúvidas
Que assola meus tristes dias
De solidão.
Suziany Santos
Poetisa
Dominante
Perante a desolação...
Ate quando o mundo será tão insano
Com tantos absurdos,
Desumano.
Incoerências que me inquietam
Ignorar se torna a sina
De quem só vive mendigando
Em farsantes covardias.
Suas tantas transgressões
Entre tantos ideais predominantes
Viver assim tão inconstante
Modifica alcançando
Lamentável sensatez.
Yasmim Lima
Poetisa
Caos
peças de encaixe, quebra-cabeças
que empregam meu juízo
a fim de te encaixar
na duvidosa certeza
desse padrão delicado.
Creio assim que num mundo perfeito,
de perfeito caos ordenado,
da ordem inequívoca do avesso,
somos aqueles que rirão
quando as primeiras bombas caírem.
Somos os que dançarão
no campo dos refugiados
das doces ilusões do progresso,
das cinzas da civilização
como se não houvesse mais a ser feito.
E, quando não houver mais nada
eu, de ti, herdarei o riso
irrestrito, desregrado,
pra afugentar meus fantasmas
das noites em claro,
dos dias entregues
à desolação do deserto
de minha própria companhia;
construiremos nossa simetria
com os estilhaços de nosso pecado.
Bruno Radner
Poeta
Oração pra quando eu for embora
Se eu partir sem dizer adeus
Ah deus, que sua saudade seja extinta
Quando eu partir
E do último beijo você lembrar
Não esqueça do poder das suas palavras
Nem do quanto ainda pode se amar
Quando eu em fim me for
Não me julgue por meus poemas
Que não tem rima nem métrica
Mas são coisas do coração
O nosso amor foi poesia
Adeus, até outro dia.
Jedaías Torres
Poeta
Intensidade
Das coisas mais simples da vida a mais bonita é você...
Você com todos os seus atributos
Suas particularidades que seduzem
Suas manias que irritam
Seus detalhes que encantam
Sua voz que silencia tudo ao redor
Seu sorriso que faz meu mundo congelar
Seu olhar que me instiga
Seu abraço que me conforta
Seu toque que me faz perder o fôlego e ganhar vida
Simone Genuino
Poetisa
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Juras de um falso amor
Jurava-me
um amor intenso e louco
Mas
foi só eu virar as costas
E
suas juras já estavam postas
Sobre
as calçadas dos becos
Nos
quais decomposta
Lambuzava-se
em outras salivas
Guarde
o seu amor para quem te queira
Que
de seus lábios eu não quero nem a promessa
Nem
a esperança desordeira
Que
ficou em mim após aquele adeus
Distribua
seus beijos amargos pelas ruas e calçadas
Que
eu de você não quero nada
Nem
mesmo as lembranças do amor
Que
falsamente me jurava
Vá viver seus prazeres mundanos
Vá
viver de amor em amor implorando
E
se entregue ao papel ao qual se prestou
Prostitua
seus beijos nas sarjetas
Prostitua
seus sonhos e o amor que me jurou
E
se um dia cruzar comigo na rua
Faça
de conta que eu nunca fui sua
Quando
eu te vir por aí mendigando
O
mesmo amor que vivia jurando
Nem
pena irei sentir
Vá
buscar seu horizonte
E
desapareça da minha estrada
Perca-se
nos becos e calçadas
Distribua
aos bêbados e mendigos
As
migalhadas do seu amor de fachada.
Lara
Uma mulher magra
Com pele clara
Que me chama atenção
No meio da escuridão.
Ela esta dançando,
Totalmente nua.
Como nada lhe observando
Ao barulho da rua.
A vejo refletida nos espelhos
Com sua pele clara exposta,
Seus seios lindos em amostra
E com seus lábios carnudos vermelhos.
É um momento diferente,
Sinto o prazer no presente
Vendo uma mulher clara,
A qual chamo de Lara.
João Carias de França
Poeta
Poema da Amizade
Um amigo especial
que nunca me fez mal.
Tantos dias vividos
momentos inesquecíveis.
Tanta coisa pra falar
e não sei por onde começar.
Você me faz tão bem
quanto riso do além
Coração puro, sem maldade
nunca se combate
Você me faz viver
como luz no amanhecer.
A esperança que nasce
de uma eterna amizade.
Todos os dias com você
jamais me farão esquecer
da amizade que me fez
rejuvenescer.
Rickson Jordan
Poeta
Existir
Meu ser tem sido modificado -
Olhar ampliado,
O meu eu é de um todo fragmentado
De um delimitado ás vezes sutil...
Em uma dualidade
Que resta só a metade,
De um cheio de entraves
Através de coisas poucas,
De um ser assim tão louca,
Me fiz desatenta em entender
Meu discurso infindável...
Neste tempo fundante
Fico vagando nessas linhas tortas,
A mercê de um esforço desmedido,
De compreender e dar sentido.
Yasmim Lima
Poetisa
O povo!
Exausto de ser maltratado,
Torturado, perseguido,
Esquecido, ludibriado,
O povo ergue-se!
Com o grito preso,
O choro contido,
As ilusões ressequidas,
A ira que fervilha,
Os punhos que cerram,
O povo move-se!
Contra os séculos de exploração submissão,
Segregação contra a liberdade tolhida,
A vontade cerceada,
A alma algemada o povo clama:
Por mudança de paradigma,
Por uma vida digna e justa,
Pelo direito de saber quanto custa,
O povo luta!
Pela vinda dos tempos melhores,
Plenos, leves, livres, risonhos,
Sem medo nem vergonha,
o povo sonha!
Bruno Radner
Poeta
domingo, 6 de outubro de 2013
Máscaras
Nesses teus disfarces
De se manter sempre distante
Nas recusas constantes -
O querer se fez perecer dentro de mim...
Foi nesse teu olhar perdido -
Sempre atento aos detalhes
de um todo cheio de razões,
Nessa tua voz firme
Que dentro de mim se fez tempestade...
Foi de um abraço não dado,
De um beijo negado
Que meu amor se dispersou de mim,
Em meio a tanto sentimento acumulado
De tantas horas desperdiçadas...
Ele decidiu ser assim
Hoje, meu bem,
Não me venha com suas análises,
Estas tuas meias verdades
Que de incredulidade me fez perdida
No acaso da certeza
De uma vida imprecisa.
Yasmim Lima
Poetisa
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
Uma breve nota sobre Horácio
Horácio plantava sonhos no quintal de casa.
Suas ânsias de vômito ao atravessar o portão,
Já o diziam: a realidade perdera a graça.
Perdera, pois o jogava longe do âmago das coisas,
Sem conforto, nem esperança alguma; nada.
Preferia mil vezes aos sonhos do quintal.
Felipe Conti
Poeta
Há de se dizer que tudo é efêmero
e por isso não se deve dar valor às coisas.
Há de se esquecer que a cor dos sentimentos desbota
e que o amor é uma falácia.
Há de se contradizer para provar o intento de que eterno
mesmo...
só o calor do momento.
Willie Malàvolta E Silva
Poeta
Silêncio
Eu poderia descrever,
Escrever, contar, dizer.
Se eu contasse,
Falasse, explodisse, gritasse.
Eu quereria, não querer,
ir sem voltar, dar meia volta.
Ficar seria como respirar,
cantar, dançar, sorrir.
Te deixo ir,
escuto teus olhos a gritar,
teus lábios a me fitar,
sem nada a dizer.
Me escondo no fundo de mim,
engano, sorrio, sigo,
repito sem cessar,
que você não é pra mim.
Me afasto,
calo,
caminho,
eternizo.
Edja Lemos
Poetisa
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