terça-feira, 22 de novembro de 2011

Os Caracóis ou Das Nostalgias na Noite VIII




VIII

Por que as manhãs
Duram como uma eternidade?
Por que me assolam
Os pretextos da lealdade?

Oh, quando eu sumir
Pelos vales,
Pelas sendas,
Pelas estradas,
Onde lhe encontrarei?
Na madrugada?

Venho de expandir
Meus mundos,
E de arrastar-me
Pelas águas minhas
Até onde me encontro –
Solitário –
Em meio à ira.

Por ser-me caracol,
Por estar-me sempre alheio
É que me afiguro estrela
(Poeira do nada),
Sobejo.

Minha fronte está marcada
Por tua singela imagem,
Por tuas palavras exatas,
Por longas noites sonhadas...

Venho de outros sonhos.
Como um invasor do Eu,
Assomo-me, por inteiro,
No morto (agora) olhar teu.

Quero organizar a alma
Como um grande fichário;
Apiedar-me daquilo que deságua
No meu itinerário.

Quero desperdiçar a vida
Em lençóis e aclamadas
Infâmias de minha lida,
Solidões apunhaladas...

Quero mendigar teu vício,
Teu suor, tua ilhada
Existência feroz – o Início
Daquilo que foi enxurrada.

1

Envolto em manhãs
Sigo – lentamente –
Pelo caminho de sempre –
Descontente.

Há muito te sonhei sorriso
Plácido,
Numa noite fria...
Agora me desperto
- sombra –
Na imagem, fotografia.

Oh, ilusões que não passaram!
Oh, fantasmas
E sombras
E objetos
E fortificações
Que se arruinaram!

Oh, canhões
Que despedaçaram
Os alienados!

Sim, vós que contendais
Pelas calçadas,
Com vossas teorias fúnebres,
Com vossos discursos monótonos,
Com vossas ideias de ferrugem!

Oh, meus algozes,
Juízes de ocasião!
Vós que aniquilais
A alma por um reles tostão!


Ilustração: Os traidores - Inferno de Dante

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