terça-feira, 23 de agosto de 2011

O Nascer do Poema




A João Cabral de Melo Neto



O poema nasce,
Fibra por fibra,
Na rigidez
Desse amargo;
Na altivez
Desse enlace;
Na sensatez
Do insensato:
Fatos e marcos.

O poema nasce,
Sua carne/face
Nas ruas, presas
Do cotidiano;
Seus mesmos
Efeitos nas
Mesmas solidões
E desafetos;
No mesmo
Homem sem nexo.

O poema nasce,
Frutos e abrolhos;
Restos de palavras
Soltas, arruinadas,
Medidas nos espaços
Da folha de papel;
Jogadas, como a
Sementes, no fértil
Do papel, no solo
Branco do papel.

O poema nasce,
Seus partos na
Floração também
São nascimentos
De outras florações;
Também a certeza
De outros fecundos
Pensamentos
Semeados na
Imensidão de seus
Versos não escritos.


Ilustração: Salvador Dali

3 comentários:

  1. Poucas palavras, mas um sentimento quase tangível.
    Adorei o poema. bjs

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  2. O que mais impressiona em João Cabral é a cisma de não se parecer com ninguém de sua época a não ser com ele mesmo. Aquela península, quase ilha, que ele criou e que criou todos nós. A Poesia é mesmo o tudo subjetivo que vem do objetivo nada interior.

    Belo poema! Tem o quê do João Cabral e seus poemas quase visuais que falam de coisas que não se pode muito bem ver.

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  3. Obrigado, João. Tentei homenageá-lo, ele que foi um poeta que me influenciou muito, nesse percurso literário, principalmente em sua linguagem condensada.

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